
Inacreditável é uma das melhores séries que eu vi neste ano, ao lado de Olhos que Condenam e Chernobyl. Já falei sobre as duas últimas aqui no blog.
Se você é fã de histórias de crime, do tipo True Detective e Mindhunter, já se joga no sofá hoje à noite e bota lá na Netflix.
São oito episódios que contam a história de uma garota que vive em um abrigo social para órfãos, em Lynnwood, no estado de Washington (EUA). Em 2008, ela revela a policiais locais que foi vítima de estupro. Diz que um homem de uns 30 e poucos anos invadiu sua casa à noite e a violentou por horas.
O caso é inspirado em uma reportagem real produzida pela ProPublica e The Marshall Project, duas agências de notícias independentes dos EUA. Uma denúncia grave sobre como um sistema judicial incompetente e maldoso pode arruinar a vida de pessoas.
+ Gostou de Inacreditável? Assista Olhos que Condenam
Pode ser que tenha um ou outro spoiler daqui para frente, mas vou tentar evitar contar demais.
O primeiro episódio de Inacreditável (Unbelievable no original em inglês) é pesado, com uma narrativa realista e interpretações que nos fazem duvidar de que há atores por trás dos personagens. Tudo parece a vida real no seu lado mais cruel e opressor. Conhecemos um pouco da vida ingrata de Marie Adler, incrivelmente interpretada pela atriz Kaitlyn Dever, uma jovem que já foi adotada por várias famílias e atualmente vive em um abrigo mantido pelo governo local.
Em uma noite de 2008, ela diz ter sido estuprada por um homem mascarado, que passa horas no local e, antes de deixar a cena do crime, tem o cuidado de limpar todos os vestígios de DNA. Marie vai até a delegacia prestar queixa e o caso cai na mão de dois investigadores.

Até aqui temos uma série, ainda que bem construída, que segue os padrões de outras do gênero. Sem grandes novidades. Dois investigadores, diante de um caso brutal, começam a reunir pistas para elucidar o crime.
A abordagem fica mais interessante, no entanto, quando entra em cena a detetive Karen Duvall, num ótimo trabalho da atriz Merritt Wever, que já tinha me impressionado na minissérie Godless. Entra em cena o lado humano em um cenário desolador.
Aqui está a grande jogada de Inacreditável: a diretora Lisa Cholodenko, ao lado da criadora da série, Susannah Grant, povoam a história com personagens femininos e botam os marmanjos como figurantes. O marido de Karen, por exemplo, cuida das filhas e arruma o jantar enquanto a mulher está no trabalho.
Se pensarmos em como estamos acostumados a ver nesse tipo de filme homens no comando, dá para dizer que Inacreditável tem um viés feminista, embora não se resuma a esse aspecto.
O que mais chama a atenção é a construção dos personagens. Marie se equilibra entre uma vida de merda, constantemente maltratada pelo destino, e a busca por um raio de luz num céu de chumbo. Ora a desilusão toma conta da sua alma, ora a raiva a faz despertar.
A trama ganha ainda mais corpo quando Karen faz parceria com outra investigadora, a sábia, dura e sarcástica Grace Rasmussen (Toni Collette num papel que poderia ser da Frances McDormand), para tentar olhar para outros casos semelhantes ao de Marie e juntar as peças do quebra-cabeça.
Que dupla elas formam! O lado mais ríspido e desbocado de Grace encaixa perfeitamente com a sensibilidade, obsessão e sabedoria de Karen. As cenas em que as duas conversam longamente sobre a vida pessoal e profissional, esperando um criminoso aparecer na porta ou no fim de um dia desgastante, são fundamentais para darem peso aos personagens.
Como inimigo principal elas têm de enfrentar um sistema cínico e preconceituoso que parece ter prazer em judiar das pessoas.
[…] + O lado humano de Inacreditável, série da Netflix sobre caso de estupro […]
[…] + O lado humano da série Inacreditável, da Netflix […]