Korn e Slipknot: buscando forças no fundo do poço

Acho que a dor inspira mais um artista do que o prazer. Quando um compositor, escritor, pintor está mergulhado em angústia sai dele um trabalho mais expressivo do que alguém mergulhado no amor.

Foi do fundo do poço que os líderes do Korn e do Slipknot extraíram as músicas dos novos álbuns The Nothing e We Are Not Your Kind. São dois discos pesados, cantados com raiva e também com melancolia. Eles parecem dizer: como encontro forças no vazio que eu sinto para sobreviver e seguir adiante?

No caso de Jonathan Davis, o vocal do Korn, é um trabalho conceitual com referência clara e direta à morte de sua esposa, Deven, em agosto de 2018 em razão de uma overdose. Quase tudo gira em torno desse luto infernal e a luta pela superação.

Korn: novo álbum “The Nothing”

Em Can You Hear Me, um dos singles lançados antecipadamente pela banda, Jonathan canta:

Você me ouve? Porque eu estou perdido
E pode ser que eu não volte nunca mais
E enquanto meu coração continua esperando
Eu sei que não serei o mesmo de novo

Na faixa This Loss, ele lamenta a perda de alguém tão importante na sua vida, dizendo que “é apenas uma sombra do homem que já foi uma vez; tudo que eu sempre amei foi tirado de mim”. Cold e Idiosyncrasy são duas pauladas com ótimos riffs e a voz mascada de Jonathan disparando com agonia.

The Nothing tem peso, refrões melódicos, choro, groove, ótimas letras e a levada inigualável que caracterizou o Korn como uma das bandas precursoras do nu metal nos anos 1990. Deve aparecer entre algumas listas de melhores do ano.

Lançado um pouco antes, em agosto deste ano, We Are Not Your Kind é o sexto álbum do Slipknot, o grupo de mascarados de Iowa que completou 20 anos de carreira e fez seu metal teatral e eficiente alcançar o mainstream. Assim como o Korn, é um tiro desesperado (seguido de um renascimento) do vocalista Corey Taylor.

Slipknot lança seu sexto álbum: “We Are Not Your Kind”

As 14 músicas de We Are Not Your Kind giram em torno da depressão que Taylor enfrenta há anos. E de como ele buscou forças para escapar do buraco. É uma experiência intensa, com faixas que devem funcionar muito bem nos palcos, como Unsainted, Solway Firth e Nero Forte.

Em vários momentos Taylor diz que está afundando, embora tentando se agarrar a alguma salvação durante a queda. Em Birth of the Cruel, ele recomenda “jamais subestimar sua agonia” e renasce dizendo que enterrou o lado estúpido da sua pessoa.

Em entrevista para a Roadie Crew, Taylor disse que escreveu o álbum para todos os párias da sociedade, que sofrem com o ódio religioso, com homofobia, com racismo. Conta que buscou inspiração no lado mais sombrio de sua alma: “Lidei com muita coisa e cheguei em uma situação bem ruim na minha vida. Parecia que eu não conseguia fazer nada e seguir em frente foi muito difícil”.

É interessante fazer um paralelo entre esses dois ótimos álbuns, lançados quase ao mesmo tempo. É o renascimento de duas bandas que continuam fazendo história e levando com vigor e consistência o metal para o grande público.

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