
Primeiro, fico animado que tantos festivais que têm o metal como foco voltaram a acontecer no Brasil. Só neste ano, tivemos o Monsters of Rock, a primeira edição do Summer Breeze no país e, no fim do ano, está confirmada a realização do Knotfest, provavelmente em dezembro. Só para citar três eventos de grande porte. Isso é muito legal!
Existe, sim, um público fiel que defende o estilo com unhas e dentes e marca presença quando existe oportunidade, apesar dos preços exorbitantes de tudo: ingressos, cerveja, água, comida.
O Summer Breeze Open Air é realizado desde 1997 na Alemanha e, ao longo do tempo, espalhou o formato pelo mundo. No último fim de semana (29 e 30 de abril), rolou a primeira edição do Summer Breeze no Brasil. Foram dois dias de apresentações em quatro palcos no Memorial da América Latina, em São Paulo.
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Consegui ir ao primeiro dia, que teve um line-up-de-tudo-um-pouco: o power metal do Blind Guardian, o glam do Skid Row, o grunge do Stone Temple Pilots, o thrash do Sepultura e o groove do Lamb of God, entre outras atrações.
Fazendo um balanço geral, acho que o saldo foi positivo.
O que funcionou no Summer Breeze: ótimos shows, pontualidade e bom line-up

Os americanos de Virginia do Lamb of God, que tinham apenas uma hora de apresentação no fim de tarde de sábado, fizeram um show irretocável, enérgico, ensurdecedor e com muita atitude do vocalista Randy Blythe. Em vários momento, abriu-se uma roda tão grande no meio da galera, influenciada por Blythe, que parecia a formação de um louco redemoinho que avançava pelos cantos.
E o que falar do Sepultura? Mais um show grandão dessa banda que continua botando o nome do Brasil no topo do metal mundial. Não à toa, Randy Blythe, do Lamb of God, que tocou em seguida no palco ao lado do Sepultura, fez uma reverência e chamou os brasileiros de lenda viva do metal, uma grande influência.
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O êxtase que canções como Roots Bloody Roots, Refuse/Resist e Territory causam na plateia é de arrepiar. E novas músicas, como Isolation, do ótimo álbum Quadra, somam mais peso ao repertório. Aliás, é uma pena que o Sepultura não seja visto como headliner, o que seria bem justo com a história e o tamanho deles. Mereciam um tempo maior de palco e visibilidade no setlist.

Os alemães do Blind Guardian ocuparam esse nobre espaço de fechar a programação de um dos palcos com um show de quase duas horas. O Blind é uma banda que ouvi muito quando era moleque, adorava Imaginations From the Other Side, Somewhere Far Beyond, Nightfall in Middle-Earth e todas aquelas músicas que falavam sobre o universo Tolkien.
Me afastei do power metal, mas sempre ouço uma coisa ou outra. E o último álbum do Blind Guardian, God Machine, lançado em 2022, reacendeu essa chama.
Foi uma noite emocionante vê-los no palco depois de quase uma década longe do Brasil. A banda tem muitos fãs apaixonados no país. Foi, sem dúvida, o maior público do primeiro dia do Summer Breeze. Em baladas como The Bard’s Song, a plateia cantou — alguns choraram — do começo ao fim.
Fiquei impressionado com a qualidade da voz de Hansi Kürsch, que falou bastante com o público entre uma música e outra e demonstrou ser um frontman simpático, quase um conselheiro amoroso. De cabelo curto, camisa, parecia seu chefe acolhedor numa reunião de trabalho.
O que não funcionou: preço salgado, banheiros sujos e obstáculos para PcD
Sei que o acesso ao Memorial da América Latina, com estação de metrô e trem por perto, é um ponto facilitador para todo mundo. Mas não gostei da disposição do festival pelo espaço cheio de concreto idealizado por Oscar Niemeyer. Assim como suas estruturas brancas, grandiosas e assépticas, o festival teve um ambiente frio e parecia fora do eixo.
A disposição dos palcos com acesso por uma passarela de pedestre sobre uma avenida foi desastrosa. Fico imaginando a dificuldade de pessoas com deficiência se locomoverem entre os palcos, já que era preciso enfrentar subida e descida.
A minha impressão é de que todo festival, independentemente do tipo de som e ambiente, está com uma fórmula e uma operação padronizadas. Repetem-se os mesmos tipos de comida, que costumam ser chamadas de “experiências gastronômicas”, as mesmas instalações instagramáveis promovidas por grandes marcas, os mesmos banheiros imundos e lotados, as mesmas cervejas quentes a preços exorbitantes e os mesmos “lounges” — cercadinhos para os endinheirados não passarem os perrengues do restante da massa.
No Summer Breeze, não foi diferente. Fora a predominância das camisas pretas (e menos coloridas) do público, poderia ser um festival qualquer — de música pop, sertanejo, de rap. Parece tudo sem alma. Só muda, um pouco, o figurino.
Por isso, ainda prefiro os shows menores, mais underground. Existe uma liberdade maior ali, as pessoas e músicos são mais autênticos, menos encaixotados no padrão-do-grande-festival-internacional.
Outra coisa que me deixa meio assustado é o metal crossfiteiro e seus seguidores. Aqueles marmanjos musculosos, invariavelmente sem camisa, seja qual for a temperatura, que estão transformando as rodinhas do metal em arenas de demonstração de poder.
Aquele metaleiro-raiz-que-tá-só-a-capa-do-batman corre o risco de ser esmagado pelos brutamontes, que estão ali gritando para os parças como quem corre nas esquinas de São Paulo achando ser o Rambo em missão no Vietnã. Tô de saco cheio do metal crossfiteiro!
Bom, em relação aos preços e qualidade das instalações, é aquele padrão nefasto de sempre: ingressos a 700 reais ou mais por dia (gente, metaleiro não tem essa grana, não!), cerveja quente por 15 reais, banheiros químicos largados, sem limpeza e manutenção.
E você? O que achou do festival?
[…] tocou no festival Summer Breeze Brasil no fim de abril, o Blind Guardian prometeu retornar ao país em breve. Mas eu não esperava que fosse tão breve […]