Summer Breeze Brasil: o que deu bom e o que deu ruim no festival

Blind Guardian, Summer Breeze Brasil 2023
Blind Guardian no Summer Breeze Brasil 2023 (Foto: Rapha Garcia/MH ARTS)

Primeiro, fico animado que tantos festivais que têm o metal como foco voltaram a acontecer no Brasil. Só neste ano, tivemos o Monsters of Rock, a primeira edição do Summer Breeze no país e, no fim do ano, está confirmada a realização do Knotfest, provavelmente em dezembro. Só para citar três eventos de grande porte. Isso é muito legal!

Existe, sim, um público fiel que defende o estilo com unhas e dentes e marca presença quando existe oportunidade, apesar dos preços exorbitantes de tudo: ingressos, cerveja, água, comida.

O Summer Breeze Open Air é realizado desde 1997 na Alemanha e, ao longo do tempo, espalhou o formato pelo mundo. No último fim de semana (29 e 30 de abril), rolou a primeira edição do Summer Breeze no Brasil. Foram dois dias de apresentações em quatro palcos no Memorial da América Latina, em São Paulo.

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Consegui ir ao primeiro dia, que teve um line-up-de-tudo-um-pouco: o power metal do Blind Guardian, o glam do Skid Row, o grunge do Stone Temple Pilots, o thrash do Sepultura e o groove do Lamb of God, entre outras atrações.

Fazendo um balanço geral, acho que o saldo foi positivo.

O que funcionou no Summer Breeze: ótimos shows, pontualidade e bom line-up

Lamb of God, Summer Breeze Brasil 2023
Lamb of God no Summer Breeze Brasil (Foto: Diego Padilha MH ARTS)

Os americanos de Virginia do Lamb of God, que tinham apenas uma hora de apresentação no fim de tarde de sábado, fizeram um show irretocável, enérgico, ensurdecedor e com muita atitude do vocalista Randy Blythe. Em vários momento, abriu-se uma roda tão grande no meio da galera, influenciada por Blythe, que parecia a formação de um louco redemoinho que avançava pelos cantos.

E o que falar do Sepultura? Mais um show grandão dessa banda que continua botando o nome do Brasil no topo do metal mundial. Não à toa, Randy Blythe, do Lamb of God, que tocou em seguida no palco ao lado do Sepultura, fez uma reverência e chamou os brasileiros de lenda viva do metal, uma grande influência.

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O êxtase que canções como Roots Bloody Roots, Refuse/Resist e Territory causam na plateia é de arrepiar. E novas músicas, como Isolation, do ótimo álbum Quadra, somam mais peso ao repertório. Aliás, é uma pena que o Sepultura não seja visto como headliner, o que seria bem justo com a história e o tamanho deles. Mereciam um tempo maior de palco e visibilidade no setlist.

Andreas Kisser, do Sepultura, no Summer Breeze Brasil (Foto: Rapha Garcia)

Os alemães do Blind Guardian ocuparam esse nobre espaço de fechar a programação de um dos palcos com um show de quase duas horas. O Blind é uma banda que ouvi muito quando era moleque, adorava Imaginations From the Other Side, Somewhere Far Beyond, Nightfall in Middle-Earth e todas aquelas músicas que falavam sobre o universo Tolkien.

Me afastei do power metal, mas sempre ouço uma coisa ou outra. E o último álbum do Blind Guardian, God Machine, lançado em 2022, reacendeu essa chama.

Foi uma noite emocionante vê-los no palco depois de quase uma década longe do Brasil. A banda tem muitos fãs apaixonados no país. Foi, sem dúvida, o maior público do primeiro dia do Summer Breeze. Em baladas como The Bard’s Song, a plateia cantou — alguns choraram — do começo ao fim.

Fiquei impressionado com a qualidade da voz de Hansi Kürsch, que falou bastante com o público entre uma música e outra e demonstrou ser um frontman simpático, quase um conselheiro amoroso. De cabelo curto, camisa, parecia seu chefe acolhedor numa reunião de trabalho.

O que não funcionou: preço salgado, banheiros sujos e obstáculos para PcD

Sei que o acesso ao Memorial da América Latina, com estação de metrô e trem por perto, é um ponto facilitador para todo mundo. Mas não gostei da disposição do festival pelo espaço cheio de concreto idealizado por Oscar Niemeyer. Assim como suas estruturas brancas, grandiosas e assépticas, o festival teve um ambiente frio e parecia fora do eixo.

A disposição dos palcos com acesso por uma passarela de pedestre sobre uma avenida foi desastrosa. Fico imaginando a dificuldade de pessoas com deficiência se locomoverem entre os palcos, já que era preciso enfrentar subida e descida.

A minha impressão é de que todo festival, independentemente do tipo de som e ambiente, está com uma fórmula e uma operação padronizadas. Repetem-se os mesmos tipos de comida, que costumam ser chamadas de “experiências gastronômicas”, as mesmas instalações instagramáveis promovidas por grandes marcas, os mesmos banheiros imundos e lotados, as mesmas cervejas quentes a preços exorbitantes e os mesmos “lounges” — cercadinhos para os endinheirados não passarem os perrengues do restante da massa.

No Summer Breeze, não foi diferente. Fora a predominância das camisas pretas (e menos coloridas) do público, poderia ser um festival qualquer — de música pop, sertanejo, de rap. Parece tudo sem alma. Só muda, um pouco, o figurino.

Por isso, ainda prefiro os shows menores, mais underground. Existe uma liberdade maior ali, as pessoas e músicos são mais autênticos, menos encaixotados no padrão-do-grande-festival-internacional.

Outra coisa que me deixa meio assustado é o metal crossfiteiro e seus seguidores. Aqueles marmanjos musculosos, invariavelmente sem camisa, seja qual for a temperatura, que estão transformando as rodinhas do metal em arenas de demonstração de poder.

Aquele metaleiro-raiz-que-tá-só-a-capa-do-batman corre o risco de ser esmagado pelos brutamontes, que estão ali gritando para os parças como quem corre nas esquinas de São Paulo achando ser o Rambo em missão no Vietnã. Tô de saco cheio do metal crossfiteiro!

Bom, em relação aos preços e qualidade das instalações, é aquele padrão nefasto de sempre: ingressos a 700 reais ou mais por dia (gente, metaleiro não tem essa grana, não!), cerveja quente por 15 reais, banheiros químicos largados, sem limpeza e manutenção.

E você? O que achou do festival?

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