
Ninguém dá bola para o aquecimento global. Talvez porque sentimos medo dele e não temos força para encará-lo de frente. Ou porque somos egoístas por natureza e nos preocupamos apenas em colocar um ar-condicionado no quintal e ignorar o clima lá fora. Provável que a gente não queira assumir a responsabilidade por acabar com o planeta e tornar cúmplice de tamanha desgraça. Pode ser também preguiça de compreender os estudos científicos complexos que mostram como emitimos mais da metade do carbono da atmosfera nas últimas três décadas.
Acontece que uma série de evidências, magistralmente narradas no livro A Terra Inabitável: Uma História do Futuro, do jornalista americano David Wallace-Wells, deixa claro que estamos caminhando a passos largos do fim. E, nesse caso, não é fantasia. Não vai sobrar zumbi para contar história.
A abrangência e a urgência do tema são tão assustadores que resolvi fazer este post, mesmo fugindo um pouco do assunto que costumamos tratar por aqui. A verdade é que não deixar de ser um terror o que veremos abaixo.
Listei, ainda de acordo com o vasto estudo feito por David em A Terra Inabitável, 10 fatos que comprovam que até 2100 vamos experimentar o gosto de uma tragédia de grandes proporções. E com seríssimas consequências, que afetam primeiro os países mais pobres, mas que não vão aliviar a confortável existência dos mais ricos.
- Até 2050 vamos ter no mundo 200 milhões de refugiados do clima, segundo dados das Nações Unidas. Ou seja, pessoas que vivem em áreas como a África subsaariana e a Ásia Meridional, onde a temperatura se tornará insuportável para o ser humano, terão que se deslocar para outros cantos.
- Se atingirmos um aumento de temperatura de 4ºC até 2100, de acordo com estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), teríamos o colapso das calotas polares, causando a inundação completa de cidades como Miami, Daca, Xangai e Hong Kong.
- Desde 1980, o planeta teve 50 vezes mais incidência de ondas de calor perigosas. Os cinco verões mais quentes da Europa desde 1500 ocorreram a partir de 2002. Em 2016, as temperaturas no Oriente Médio, por exemplo, chegaram a 49ºC.
- O aquecimento também afetará a produção de comida. Até o fim do século, quando teremos uma população 50% maior para alimentar, podemos ter 50% menos grãos para oferecer. Isso devido à desertificação do solo, o prejuízo ao crescimento das plantas, às inundações constantes etc.
- Pelo menos 5% da população mundial, até 2100, sofrerá com enchentes todo ano. Jacarta pode submergir de vez até 2050.
- Em 2050, a destruição causada por incêndios deve dobrar. Os incêndios fatais na Califórnia são uma amostra do que está por vir.
- Vai faltar água doce. Em cerca de uma década, prevê-se que a demanda mundial por água vá superar a oferta em 40%. Até 2100, é possível que as geleiras do Himalaia percam 40% de seu gelo e pode haver escassez de água generalizada no Peru e na Califórnia. Segundo as Nações Unidas, 5 bilhões de pessoas poderão ter acesso precário à água doce em 2050.
- Os oceanos estão morrendo. A acidificação dos oceanos tem causado, entre outros colapsos, a morte dos corais. Até 2030 esse processo ameaçará a vida de 90% de todos os corais.
- O excesso de carbono na atmosfera e outros gases poluentes derivados dos combustíveis fósseis estão tornando o clima irrespirável. Apesar de a China, um dos países mais poluentes do mundo, investir em programas para melhorar a qualidade do ar, a poluição continua matando mais de 1 milhão de chineses por ano. No mundo todo uma em cada seis mortes é causada por poluição.
- Temperaturas altas ajudam a propagar doenças, principalmente aquelas que são transmitidas por mosquitos. De acordo com o Banco Mundial, 3,6 bilhões de pessoas terão de lidar com a malária até 2030.
Sabe o que é pior? Devolver a saúde ao planeta exige uma transformação cooperada de todos os países a um novo estilo de vida, de desenvolvimento econômico. Sinceramente não vejo políticos empenhados ou preocupados com isso.