
Tudo acontece à luz do dia no filme Midsommar, o que, cá entre nós, é bem incomum nas produções de terror. Essa é uma das graças da última obra do diretor Ari Aster, que causou burburinho em torno de seu nome depois do lançamento de Hereditário.
Quando cai a noite e todos vão dormir, Aster opta por cortar a cena, dar um salto no tempo de algumas horas, e retomar a ação quando está claro de novo.
Midsommar foi um dos filmes mais comentados de 2019, figurando inclusive na prestigiosa lista de melhores do ano da revista britânica Sight and Sound, mesmo competindo fora do seu gênero.
A meu ver, é bom porque consegue amarrar a história maluca de uma seita pagã na Suécia com a carga emocional do luto de uma das personagens principais.
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Dani, interpretada pela atriz Florence Pugh, é uma jovem que sente as agruras da irmã deprimida e enfrenta instabilidades na relação com seu namorado, o insensível Christian (Jack Reynor). Logo no início da trama, ela passa por uma terrível tragédia — não vou contar muito para guardar a surpresa.
Alerta de spoiler: daqui pra baixo conto um pouco mais sobre a história.
Christian faz parte de um clube do bolinha que planeja uma viagem a Suécia para conhecer um tradicional ritual pagão comemorado em uma vila obscura do país. Uns pensam em agregar conhecimento para a realização de uma pós-graduação em antropologia, outros são atraídos pela fantasia das mulheres suecas.
Em estado de choque depois da tragédia, Dani não se sente acolhida pelo namorado, que, para piorar a situação, esconde dela o plano de passar duas semanas fora com os amigos.
Mesmo a contragosto, Christian convida a namorada para acompanhá-los. Ainda inebriada pelo golpe, ela aceita e todos partem para a Suécia. Um dos amigos de Christian, que viveu no vilarejo quando era criança, assume o papel de guia da turma.
O sol brilha no extenso gramado, com leves ondulações, da vila sueca. A fotografia de Pawel Pogorzelski realça o branco ofuscante que domina nosso campo de visão. Os moradores locais usam roupas brancas e se enfeitam de flores. É uma visão hippie do paraíso.

A atmosfera angelical do lugar se transforma aos poucos, à medida que os visitantes tomam chás com substâncias alucinógenas oferecidas pelos anfitriões. Dani fica receosa ao perder o controle de suas emoções e sentir de volta o gosto amargo da tragédia recente. Ari Aster constrói cada cena com cuidado, como se fossem pinturas campestres. Elementos surreais, como um urso enjaulado, causam estranhamento no espectador.
Midsommar se insere num sub-gênero conhecido como folk horror, cuja principal obra — e certamente uma referência para Aster — é o clássico de terror inglês The Wicker Man, de 1973. Ali também há um ritual pagão, realizada à luz do dia, que envolve sacrifícios humanos.
A revista Sight and Sound faz um interessante recorte sobre folk horror e os filmes fundamentais do gênero neste artigo.
Midsommar tem pelo menos dois méritos: construir um cenário idílico e exuberante, com cenas poderosas, como a do penhasco, e sustentar esse esplendor visual com uma carga de emoção angustiante, principalmente centrada na jornada de superação de Dani, que sai do buraco para se tornar a rainha de maio. Enquanto Christian abraça o capeta e prova do seu próprio desprezo pela vida humana.
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Onde posso assistir?
Em sex, 3 de jan de 2020 16:36, A Cruz e a Empada escreveu:
> Fernando Masini posted: ” Christian e Dani assistem à ritual macabro em > Midsommar, de Ari Aster Tudo acontece à luz do dia no filme Midsommar, o > que, cá entre nós, é bem incomum nas produções de terror. Essa é uma das > graças da última obra do diretor Ari Aster, que causou burb” >
Acho que tem no Now, Cerso, dá uma olhada lá, depois me conta o que achou