
Assim como alguns de vocês, passo horas no catálogo do streaming até escolher o filme que vou assistir. Muitas vezes, não vejo nada e prefiro ler um livro ou ouvir música antes de dormir.
Por diversão, comecei a vasculhar nas programações o que havia na seleção de “filmes de terror”. Fui primeiro na Netflix, por força do hábito, e fiz uma seleção bem pessoal sobre o que considero os melhores filmes de terror que estão disponíveis hoje na plataforma.
Eu pretendo manter essa lista atualizada mês a mês à medida que novos filmes são lançados.
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Só coloquei abaixo o que realmente assisti. Portanto, aceito sugestões de outros filmes de terror com potencial de figurar por aqui.
Fazendo um balanço do que rastreei na Netflix, cheguei à conclusão de que faltam opções mais antigas, de clássicos como Halloween, Alien, The Wicker Man, e um catálogo menos centrado nas produções americanas. Apesar da boa seleção da nova onda sul-coreana de terror.
De qualquer forma, espero que possa servir como uma curadoria do que ver.
O PÁLIDO OLHO AZUL (2022)

Em O Pálido Olho Azul, o escritor e poeta americano Edgar Allan Poe (1809-1849), pioneiro da literatura de detetive e de horror, é transformado em um cadete que investiga, ao lado de um famoso inspetor, uma série de assassinatos cruéis em West Point, Nova York, no século 19. O filme não é exatamente baseado em uma história real, foi inspirado no livro de ficção do autor Louis Bayard. Mas reconstrói o ambiente e a atmosfera nos quais as histórias de Poe se passavam.
Poe de fato foi um estudante da famosa Academia Militar de West Point em 1830, mas os outros personagens do filme são resultado da mente criativa de Bayard e do diretor Scott Cooper. O ator Christian Bale interpreta um inteligente detetive que vive recluso em uma cabana. Ele é chamado para solucionar assassinatos de cadetes da Academia e conta com a ajuda de Edgar Allan Poe (Harry Melling), também um jovem cadete que desafia os dogmas do lugar com seu apego pela poesia e por um romantismo macabro.
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CÉU VERMELHO-SANGUE (2021)

Terroristas assumem o controle de um avião em pleno voo, mas não sabem que há uma vampira a bordo. Basicamente, trocando em miúdos, essa é a sinopse da produção alemã Céu Vermelho-Sangue. Sem muito alarde, o filme entrou na programação da Netflix e ganhou seu espaço. Assim como o coreano Invasão Zumbi, que integra a lista, a ação fica enclausurada no tempo e espaço de uma viagem.
Uma mãe (Peri Baumeister) que viaja com o filho (Carl Koch) é surpreendida, ao lado dos outros passageiros, por um plano terrorista meticulosamente executado. Até onde pode, ela tenta esconder do filho sua doença, que será fundamental para combater os criminosos. É um filme divertido, sem tanta pretensão, que mostra a ligação potente entre mãe e filho.
UM LUGAR SILENCIOSO – PARTE 2 (2021)

Depois de ganhar projeção em 2018 com Um Lugar Silencioso, o diretor John Krasinski repete a dose com a continuação da história da família que tenta sobreviver em uma região controlada por monstros que devoram seres humanos quando notam qualquer tipo de barulho, seja a voz mais alta de alguém, seja o barulho de um sapato em contato com o piso de madeira.
Imagine que em um ambiente onde o ruído pode ser mortal é preciso andar descalço o tempo todo, falar em linguagem de sinais e ouvir música sempre com fones de ouvido. Essa proposta original de Krasinski, num mundo cada vez mais ruidoso, cai como uma interessante reflexão sobre os tempos atuais. Na sequência, a família Abbott enfrenta os perigos do mundo exterior.
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FUJA (2021)

Fuja é daqueles thrillers bons de assistir. Uma trama minimalista e bem construída, poucos personagens interpretados por bons atores e reviravoltas que nos deixam colados na tela. Sarah Paulson, protagonista da série recente Ratched, interpreta Diane, uma mãe extremamente controladora que se dedica o tempo todo a cuidar de sua filha, Chloe, que usa cadeira de rodas, é diabética e tem asma.
No papel da filha adolescente está a ótima atriz Kiera Allen em sua primeira grande atuação. Ela estabelece com a mãe uma relação afetuosa e, às vezes, intempestiva. O clima de suspense aumenta quando Chloe começa a estranhar alguns comportamentos da mãe e passa a realizar uma investigação por conta própria sobre a saúde e seu tratamento.
#ALIVE (2020)

Mais uma boa produção que vem da Coreia do Sul. Em #Alive, um jovem fica confinado em seu apartamento, lutando para sobreviver, em um mundo tomado por zumbis que foram infectados por um misterioso vírus. Ele perde a conexão com o mundo exterior quando fica sem energia e internet.
Com direção de Hyung-cho Il, o filme foi lançado no mesmo ano em que a pandemia de Covid-19 se alastrou pelo mundo, sobretudo no Brasil. Portanto, há uma relação próxima entre o que vemos na tela e o que vivemos naquele ano fatídico. Para quem curte a pegada do cinema de terror asiático, dica para a série coreana All of Us Are Dead, também disponível na Netflix.
O QUE FICOU PARA TRÁS (2020)

Um dos filmes mais originais que vi nos últimos anos. Em seu primeiro filme, o diretor inglês Remi Weekes usa os elementos do terror para fazer uma dura crítica social. Apesar de ser um filme com fantasmas e forças sobrenaturais, o terror está mesmo na realidade do dia a dia de um casal de refugiados, Bol (Sope Dirisu) e Rial (Wunmi Mosaku), que escapa da guerra no Sudão e, após uma viagem longa e dura, encontra um novo lar numa pequena cidade da Inglaterra.
Temas como racismo, culpa, luto e discriminação envolvem a história, que tem o peso de um drama social. Assim como Corra, há uma mensagem clara e política que perpassa todo o roteiro.
THE PERFECTION (2019)

Meio escondido no catálogo da Netflix, A Perfeição é um thriller de vingança muito bem construído, com boas reviravoltas. Assim como em Cisne Negro, a rivalidade entre músicos, bailarinos e outros artistas de primeira linha se acirra a ponto de se tornar um pesadelo.
Charlotte, interpretada por Allison Williams (da série Girls), é uma musicista excepcional que desistiu de tudo para cuidar de sua mãe doente. Quando retorna ao local onde se consagrou, a vida dela cruza com a de uma violoncelista de carreira promissora e adorada por seu mestre. A relação obsessiva entre ambas tem resultados trágicos.
O POÇO (2019)
Lembro que vi o filme espanhol O Poço no auge da pandemia e pensei: é um conteúdo sobre confinamento um tanto perturbador para a época que estamos vivendo. O Poço (El Hoyo, no original) é uma alegoria do nosso sistema de classes e do darwinismo social. É uma crítica ao capitalismo e como ele corrompe a pureza congênita (será?) do ser humano. É também um bom entretenimento: um filme de terror com conteúdo.
A história é simples: em um mundo distópico funciona uma imensa estrutura que parece uma prisão vertical, sendo que cada cela ocupa um dos mais de 200 andares. Duas pessoas convivem em cada andar, que tem cama, pia e banheiro – e só. Alguns são criminosos, outros são voluntários que passam pela experiência em troca de uma recompensa. O jogo de convivência é o seguinte: quem está nos andares de cima tira proveito de um farto banquete, enquanto os que estão embaixo ficam com as sobras. Lá no fim do poço, não resta comida.
HEREDITÁRIO (2018)

Com Hereditário, o diretor Ari Aster, aos 31 anos, subiu ao panteão dos grandes diretores do gênero de terror. Como falei por aqui na estreia, Aster filma com a mão de um veterano. Extrai o melhor dos atores, cadencia o ritmo do filme com habilidade e é preciso nos movimentos de câmera e enquadramentos.
Se tem uma coisa que vale a pena em Hereditário é a atuação estupenda da atriz australiana Toni Collette no papel de Annie. No filme, ela é casada com Steve (Gabriel Byrne) e tem dois filhos: a introvertida e macabra Charlie (Milly Shapiro) e o indiferente e blasé Peter (Alex Wolff). Eles vão viver um pesado luto e reviver segredos do passado confinados em um casarão sombrio.
APÓSTOLO (2018)

Produção própria da Netflix, Apóstolo é um bom terror de época. O filme se passa em 1905. Um homem recebe uma carta de sua irmã pedindo para que ele a resgate em uma ilha remota, onde ela foi capturada. Ali, ele encontra uma pequena comunidade comandada por um padre fervoroso e tenta descobrir o que aconteceu com a irmã. Há semelhanças claras tanto na história quanto na atmosfera com o clássico inglês The Wicker Man, de 1973. A direção é de Gareth Evans.
O ANIMAL CORDIAL (2018)

Quando foi lançado em 2018 nos cinemas, Animal Cordial causou um burburinho entre cinéfilos, crítica e o público em geral. O filme da baiana Gabriela Amaral Almeida, amante e estudante do gênero de terror, surgiu como algo raro na cinematografia nacional. Um filme de terror que coloca no ambiente de um restaurante boa parte da tensão social que vivemos no Brasil: luta de classes, racismo, misoginia.
A história se passa em São Paulo. Inácio (Murilo Benício) é o dono de um restaurante que trata os funcionários com dureza e intolerância, sobretudo o cozinheiro Djair (Irandhir Santos). Quando o estabelecimento é assaltado, Inácio e a garçonete Sara (Luciana Paes) precisam encontrar meios para controlar a situação e lidar com os clientes que ainda estão na casa: o solitário Amadeu (Ernani Moraes) e o casal endinheirado Bruno (Jiddu Pinheiro) e Verônica (Camila Morgado).
JOGO PERIGOSO (2017)

No embalo da nova versão de IT: A Coisa, de 2017, Stephen King fez parceria com a Netflix para lançar naquele ano dois filmes baseados em seus livros: Jogo Perigoso e 1922. Destaco nesta lista o primeiro deles, que me fez lembrar o clássico Misery (em português foi traduzido como Louca Obsessão), também inspirado nas histórias do escritor americano.
A história é simples, mas o que nos prende é a aflição que causa a situação, intensificada pelo ótimo trabalho do diretor Mike Flanagan, das séries Missa da Meia-Noite e A Maldição da Residência Hill. Na trama, um casal decide viajar para um local isolado a fim de salva o casamento em crise. Mas uma das brincadeiras eróticas não sai como o planejado.
AS BOAS MANEIRAS (2017)

Outro representante nacional da lista, As Boas Maneiras, lançado na 41ª Mostra de Cinema de São Paulo, é mais um tiro certo da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra, de Trabalhar Cansa. Premiado no Festival de Locarno e no Festival do Rio, o filme narra em tom fantástico a relação entre Clara, uma solitária enfermeira que vive na periferia de São Paulo, e a rica e misteriosa Ana, que a contrata para ser babá de sua criança.
Juliana e Marco fazem parte do coletivo paulista Filmes do Caixote, que trouxe um frescor para o terror nacional, que andava meio cabisbaixo.
O HOMEM NAS TREVAS (2016)

A fórmula dos filmes de invasão-de-casas-mal-assombradas ganha novos ares na mão do diretor uruguaio Fed Alvarez, que fez um excelente remake de A Morte do Demônio em 2013. Em O Homem nas Trevas, um filme rápido e intenso, um grupo de jovens invade a casa de um velho cego a fim de roubar seus pertences. A noite, no entanto, se torna um pesadelo para a gangue.
INVASÃO ZUMBI (2016)

Prepare-se para uma viagem insana proposta pelo sul-coreano Sang-ho Yeon. Hoje, sabemos que o cinema da Coreia do Sul tem se especializado em boas produções de terror — e Invasão Zumbi foi um dos primeiros filmes a surfar nessa nova onda. Passageiros que viajam de trem da capital Seoul para Busan são vítimas de um vírus que se prolifera rapidamente entre os vagões.
Estamos num ambiente fechado, sem escapatória, e zumbis infectados perseguem os passageiros com a avidez de um lobo esfomeado. Invasão Zumbi é um filme de terror e ação que pode ser lido como uma luta de classes dentro de um trem, com os privilégios e restrições bem demarcados.
CORRENTE DO MAL (2015)

Em Corrente do Mal, voltamos aos filmes stalk-and-slash que ficaram famosos nos anos 1980, como Halloween e Sexta-Feira 13, que colocavam adolescentes em perigo com seus próprios medos. David Robert Mitchell conta a história da jovem Jay (Maika Monroe), de 19 anos, que é perseguida por forças sobrenaturais depois de fazer sexo com seu parceiro Hugh (Jake Weary).
A única maneira de ela se livrar dessa maldição é manter relações sexuais com outra pessoa. Temos uma metáfora clara explorada por Mitchell no filme: o contágio por meio de doenças sexualmente transmissíveis. Mas, a meu ver, o pavor demonstrado pelos personagens vai além disso: eles estão presos nos próprios medos que envolvem essa fase da vida, o temor de se tornar adulto e perder a pureza de seus sonhos.
SOBRENATURAL: A ORIGEM (2015)

Temos mais um exemplar clássico de casa-mal-assombrada. Às vezes fico me perguntando: será que é tão difícil inovar nas histórias de terror? Ou é mais cômodo e sem riscos seguir uma fórmula pronta? Enfim, o primeiro filme da série Sobrenatural (Insidious) foi lançado por James Wan em 2010 e, de lá pra cá, foram outros quatro.
Não há nada de muito novo do que já vimos em outras produções do tipo, mas digamos que é um filme manjado, mas bem-feito, gostoso de assistir pra quem gosta. Temos a família aparentemente feliz que se muda para uma casa antiga cheia de cômodos escuros, escadas, chão que range e sótão (esse não pode faltar). E, então, coisas estranhas começam a acontecer no momento em que o filho mais novo desfalece sem um motivo aparente.
CREEP (2014)

Por trás de Creep, estão dois grandes produtores e diretores: Jason Blum, da Blumhouse e da franquia Atividade Paranormal, e Mark Duplass, famoso entre os indies por filmar sem recurso, com câmera na mão e tom coloquial. Aliás, Creep tem exatamente essa “pegada caseira” e, por isso, fica ainda mais assustador.
Um produtor de vídeo (Patrick Brice) atende a um anúncio para rodar um filme num lugar remoto da Califórnia. Seu cliente se chama Josef (o próprio Duplass) e tem um pedido peculiar para fazer: ele é um paciente terminal com câncer e quer filmar suas últimas horas de vida para seu filho, que ainda não nasceu. Creep faz uma boa mistura entre terror e momentos cômicos.
O HOSPEDEIRO (2006)

A criatura criada por Bong Joon Ho para O Hospedeiro é uma mistura de réptil, Godzila e tubarão. Sem dúvida, é um dos filmes-de-monstro mais legais dos últimos tempos. É assustador e engraçado, comovente e grotesco. Assim como o Gojira japonês, emerge da água uma criatura gigantesca que bota terror numa cidade densamente povoada. Nesse caso, Seoul. O foco é a trajetória de uma família de três gerações que vive junto e é acossada pelo monstrengo.
Grande Cerso, muita coisa você deve ter visto. Obrigado pela visita ☺️
Oi curador,boas dicas,verei alguns filmes