
Quase tudo tem a ver com pênis no filme O Farol. Esse símbolo fálico é explorado pelo diretor Robert Eggers de diversas maneiras. O próprio formato do farol é tratado como um pinto enorme, cuja luz magnética que tanto atrai os dois personagens seria como a cabeça sensível do membro. Ela guia o ato dos homens, assim como orienta os marujos no mar.
O pênis é o maior representante, como nos ensinou estudiosos da psicologia, da masculinidade, pelo qual os homens demonstram sua força e virilidade. A luta por poder entre dois homens enclausurados em uma ilha remota é o tema central de O Farol, assim como o esforço deles na tentativa de dominar a natureza inclemente.
Foi assim que eu vi (e interpretei) o novo filme do diretor Robert Eggers, que esteve à frente do excelente A Bruxa. Junto com seu irmão, Max, Eggers construiu uma história fabulosa, sombria e cheia de referências à mitologia e à literatura náutica. E filmada em película 35 mm, em preto e branco e no formato quadradinho, como eram rodados os filmes no começo do século 20, ou seja, nos primórdios do cinema.
+ Midsommar: paganismo no interior da Suécia
Willem Dafoe interpreta Thomas, um velho ranzinza que há anos zela pelo funcionamento de um farol isolado do continente, em New England no fim do século 19. Para ajudá-lo nas tarefas diárias, ele recebe a companhia de um jovem que cortava lenha nas montanhas do Canadá, o calado e desconfiado Ephraim Winslow (Robert Pattinson).

A convivência em um ambiente remoto e selvagem vai testar a paciência e a sanidade dos dois. Thomas adora dar ordens, enquanto Ephraim pega no pesado, limpando a casa que fica ao lado do farol, arrumando as telhas, limpando a caixa de água. À noite, eles dividem a mesa para comer e beber. Com o tempo, a bebida passa a ser um alento para o duro trabalho.
Assim como ocorre em O Iluminado, do Kubrick, muitas dúvidas surgem na cabeça do espectador: o que de fato está acontecendo e o que é imaginação fruto da mente perturbada dos personagens. Em entrevistas, Eggers prefere deixar a questão em aberto.
A violência vai ganhando camadas aterrorizantes na relação entre dois homens que, aos poucos, se comportam como dois animais primitivos, se engalfinhando por espaço e poder. A atmosfera esfumaçada, pesada e comprimida sufoca o espectador, que busca respostas no meio do caos.
Enquanto isso, Eggers recheia O Farol com um monte de referências e citações. Vou tentar decifrar alguma delas a seguir. Para quem ainda não viu, há spoilers adiante:
Referências e explicações no filme O Farol: o que a gente acha que o diretor Robert Eggers quis nos mostrar
Proteu, o profeta dos mares

Thomas Wake, o personagem de Willem Dafoe, encarna em alguns momentos o mito de Proteu, o deus grego, filho de Poseidon, que possui grande conhecimento sobre os mares e tem a habilidade de fazer profecias. Isso fica claro em algumas cenas em que Thomas se transfigura em uma criatura aquática. E também quando, tal como um profeta, alerta Ephraim sobre como será a sua própria morte.
Prometeu, acorrentado na rocha
Por outro lado, Ephraim simboliza a trajetória do titã Prometeu, um defensor da humanidade que desafia Zeus ao roubar o fogo dos deuses e conceder para os seres humanos. Nesse caso, o fogo representa o conhecimento. A própria luz do farol faz menção à inteligência, ao iluminismo. Ali está a sabedoria. O destino de Ephraim é o mesmo de Prometeu, condenado a ficar preso em uma rocha, enquanto pássaros o devoram vivo.
H.P. Lovecraft: a loucura e as criaturas marinhas
Robert Eggers nunca escondeu que é fã da obra do escritor H.P. Lovecraft, um dos nomes mais emblemáticos da literatura de horror e ficção científica. Em O Farol, ele cria um clima que poderia ser facilmente um cenário das histórias bizarras de Lovecraft: com criaturas abomináveis vindas do fundo do mar, cheias de tentáculos, e uma atmosfera de paranoia e loucura entre os personagens. O conto Dagon, escrito em 1917, parece ser uma influência.
Dois personagens ou um só? A psicologia explica
E se na ilha de O Farol existisse apenas um dos personagens, sendo que o outro seria fruto de sua imaginação? Corre uma teoria entre os fãs do filme que Thomas e Ephraim representariam diferentes personalidades de um mesmo personagem. À luz da psicologia, eles seriam o símbolo de um conflito entre ID e Ego, ou seja, entre o instinto e a razão.
Hitchcock aqui e ali

A cena em que a atriz Tippi Hedren é atacada por uma gaivota em Os Pássaros (1963), de Hitchcock, se assemelha à ameaça que as gaivotas representam para o jovem Ephraim. Em determinado momento, ele também é atacado por um pássaro e sofre, ao longo de toda a projeção, com essa presença hostil. Uma menção a outro filme do mestre inglês, Vertigo: Um Corpo que Cai (1958), pode ser vista na cena final de O Farol, quando Ephraim despenca da torre por uma escada em espiral.
Nem com explicação esse filme fica bom
Finalmente,assisti o filme O Farol,fiquei impressionado., depois d seus comentários,ficou ainda melhor.Um grande abraço.
Que legal, Cerso! Tem umas coisas no texto que nem sei se o diretor pensou, mas na minha cabeça fez sentido hahaha
[…] + Entenda o filme o Farol […]
[…] + Entenda o filme O Farol: todas as referências […]
Valeu, Sara, depois conta o que achou.
Muito bom, vou ter de ver o filme!