
Tem algo especial nos irmãos Cavalera. Eles sobem ao palco e a galera fica completamente louca de uma hora pra outra. Claro, eles se misturam à origem do metal no Brasil e, por isso, se tornaram duas lendas. Além do mais, despertam nos mais velhos um saudosismo dos anos 1980, quando o Sepultura teve a coragem de fazer música pesada num país desacostumado a isso. Mas acho que parte do contágio que eles emanam tem a ver com o fato de Max e Iggor sentirem prazer no que fazem. Isso fica muito claro!
Em 2016, contei como foi ver o Soulfly em São Paulo, com um Max endiabrado soltando hits do Sepultura, Pantera e Motorhead, injetando na plateia uma carga de adrenalina que só se dissipava na imensa roda de headbangers que se formou no meio do Audio Club.
Com a reputação de ser o maior embaixador do metal nacional, Max sabe que está ali nessa posição, tem o público na mão e, mesmo sem os estouros de energia do passado, conduz a plateia facilmente, com pequenos gestos. Isso se repetiu no domingo (07/08) com a turnê Return to Roots, que celebra os 25 anos do álbum Roots Bloody Roots, do Sepultura.
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Depois de passarem por Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto, os irmãos Cavalera desembarcaram em São Paulo para fechar o rolê. A promessa era tocar o icônico álbum de 1996, o último com a participação de Max, na íntegra. Mas, antes, subiram ao palco a banda Sinaya (cheguei atrasado e não vi!) e os gigantes do Krisiun, que há três décadas honram o death metal brasileiro por aqui e sobretudo lá fora. A noite era especial para o trio gaúcho: foi o lançamento oficial do novo disco Mortem Solis. Aliás, pode botar pra tocar no seu Spotify enquanto lê esse post.

Krisiun: novo álbum em noite histórica
Além de clássicos, como Kings of Kiling e Combustion Inferno, a banda tocou pela primeira vez ao vivo três faixas do novo álbum: Swords Into Flesh, Serpent Messiah e Sworn Enemies. Como sempre, o som dos caras é direto e preciso. Fiquei sem entender, no entanto, a reação morna do público. O próprio Alex Camargo (vocal) achou a galera comportada demais… ainda que incentivasse todo mundo a abrir roda, bater cabeça.
O pau comeu mesmo quando Max (com sua tradicional calça camuflada), Iggor (que chegou a meter uma camisa do Palmeiras no fim do show), o convidado especial Dino Cazares (talentoso guitarrista do Fear Factory e que já foi do Brujeria) e o baixista-que-eu-não-sei-o-nome soltaram as primeiras batidas e riffs de Roots Bloody Roots, o hino poderoso do Sepultura que mistura peso, percussão e uma pegada tribal que revolucionou o metal lá atrás.
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Max soltou a voz para uma massa de gente que cantava em coro o refrão, esganiçando a voz como se exorcizasse os traumas do confinamento. Em seguida, Attitude e Ratamahatta botaram ainda mais fogo nas rodinhas que se abriram no fundo da plateia. Na batera, Iggor combinou velocidade e peso com a precisão de sempre. Dino parecia se divertir ao lado dos dois, passeando de um lado pro outro.
A noite foi uma festa dos metaleiros, sobretudo os fãs das antiga. Além do Roots, os Cavalera voltaram para o bis para entoar outros clássicos do Sepultura e algumas homenagens: foi a vez de Troops of Doom, com a presença de Alex Camargo dividindo os vocais com Max, Refuse/Resist e Orgasmatron.
Imagino que, ao fim do show, a mesma satisfação de quem viu os caras ali de perto mais uma vez quebrando tudo deve ser a de Max e Iggor, que têm a oportunidade de reviver uma época especial para o metal nacional.
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