A volta explosiva da Nervosa

Com nova formação, Nervosa lança Perpetual Chaos

O assunto que mais rendeu no ano passado entre os fãs do metal nacional foi o desmanche da Nervosa. Deu o que falar porque ninguém esperava. E também porque o trio feminino de thrash metal estava voando alto, conquistando terreno lá fora (com show marcado para o prestigioso Wacken Open Air) e, aparentemente, no seu melhor momento.

O fato é que Fernanda Lira (voz e baixo) e Luana Dametto (bateria) anunciaram sua saída da banda em abril. E, convenhamos, não é a saída de um integrante, que pode ser substituído e vida que segue. Os motivos não ficaram tão claros, chegaram a falar de divergências políticas, musicais e desentendimentos na composição das letras.

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Diante do baque, Prika Amaral, fundadora da Nervosa e a integrante que restou, assegurou em nota para fãs e imprensa que a banda não encerraria suas atividades. Em matéria na Whiplash, ela disse que “a Nervosa nunca irá morrer” e justificou, sem dar razões muito claras, que “de dois anos pra cá a banda não tem sido a mesma”.

Novo álbum Perpetual Chaos, da banda Nervosa

E cumpriu sua promessa agindo rápido para recolher os cacos e dar vida nova ao grupo. Em menos de um ano, colocou de pé uma nova formação, com a espanhola Diva Satanica nos vocais, a baterista grega Eleni Nota e a baixista italiana Mia Wallace, fez audições e ensaios virtuais em meio à pandemia e acaba de lançar o álbum Perpetual Chaos, que é, sem dúvida, o melhor trabalho do grupo (agora um quarteto) até o momento.

Apesar de mais cosmopolita, ainda dá para encarar o grupo como um raro representante brasileiro na cena do metal mundial. Prika manteve o DNA da Nervosa, mas foi além: aproveitou as influências de Diva, Eleni e Mia para ampliar as fronteiras musicais, com uma pegada mais death e black, ritmos mais quebrados, sem perder a potência, e letras obscuras. Nada mais adequado para o momento que vivemos.

Perpetual Chaos: sinal dos tempos

Aliás, uma das canções de Perpetual Chaos, a paulada de pouco mais de 2 minutos Time to Fight, que rouba do punk o espírito combativo, remete diretamente à crise sanitária sem precedentes que colocou o mundo em colapso.

Lockdown, unrest
Control is lost
No medication
No expectation
Future is uncertain

Time to Fight, do álbum Perpetual Chaos

Guided by Evil, que foi lançada no fim do ano passado como single, começa com um riff de guitarra que poderia ser do Black Sabbath. Depois ganha velocidade, com a bateria de Eleni ditando o ritmo (aliás, que batera insana!) e a voz da Diva rasgando um refrão que não sai da cabeça. A cadencia de alguns momentos, trazendo uma sonoridade mais melancólica e sombria, típica do doom e black metal, é uma novidade que não víamos nos projetos anteriores da banda.

A faixa-título, Perpetual Chaos, também dosa com equilíbrio a agilidade e um quê old school do thrash com passagens mais vagarosas, intercaladas pelas viradas de Eleni na bateria e ótimos riffs de Prika. Na letra, um retrato certeiro de como sobreviver numa época sem esperança. Venomous, que abre o álbum, é outro bom exemplo dessa mistura de agressividade, melodia, solos de guitarra e a versatilidade da voz de Diva.

É animador ver mais uma banda do metal nacional conquistando seu espaço lá fora, ainda mais se pensarmos que tudo foi construído no meio do caos (aproveitando o título do disco) e num cenário que muitas vezes e infelizmente é hostil às mulheres. Há uma luta por trás disso tudo — e isso também importa!

Natural que os resultados de um trabalho bem-feito comecem a aparecer. Pela primeira vez, a banda foi capa da consagrada revista de metal Decibel, em sua edição do último mês, e as críticas tanto da imprensa nacional quanto internacional têm sido bem positivas.

Um reinício revigorante de uma banda que já mostrava ser capaz de abalar as estruturas.

PS: Diva Satanica apavora os jurados na versão The Voice da Espanha!

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