
O escritor Santiago Nazarian já foi mais bizarro, histriônico, intenso, mais adolescente. Tanto na sua escrita quanto no seu comportamento. Hoje, imagino, ele deve estar na casa dos 40 anos. Também imagino que a idade tenha lhe trazido serenidade, uma visão mais distante do mundo, menos afoita. É o que deduzo depois de ler Neve Negra, seu mais recente romance e nono livro, uma boa história de terror que não se limita a entreter, mas vai além: toca em temas como paternidade, o papel do artista no mundo e o casamento.
Li suas primeiras obras — Mastigando Humanos, A Morte sem Nome — e sempre admirei sua coragem de fazer algo diferente, de arriscar novos formatos, de repetir as frases, de botar um monte de bicho como personagem, de sangrar na hora de escrever, de fazer uma literatura mais dark. Antes, era tudo visceral, com os excessos típicos da juventude. Se não estou errado, Nazarian começou a escrever bem jovem. Hoje, depois de terminar Neve Negra, senti que as sentenças estão mais bem pensadas. O que é bom, a meu ver. Nem sempre descarregar tudo de uma vez funciona como a gente deseja.
+ Já ouviu falar em immersive horror?
Neve Negra é costurado como filme de terror. Bruno, o protagonista, é um artista radicado na Europa que está de volta à casa da esposa e do filho pequeno, em uma cidade (creio que inventada) gelada de Santa Catarina, estado natal de Nazarian. Por causa de sua carreira bem-sucedida no exterior, ele é um pai ausente. Bruno chega em casa, depois de uma viagem de avião na classe executiva, pega um copo de uísque, prepara comida na cozinha e vai ver o filho no quarto. É tarde e está nevando lá fora.
Tudo acontece em uma noite. Primeiro, a inabilidade com o filho. Depois, a visita estranha do vizinho escritor, a morte inesperada da cadela, o avô taxidermista que mora ao lado. O tom de fábula macabra, em certo momento, quase toma conta do livro. Mas Nazarian centra o foco no lado psicológico do protagonista. Até onde vai seu devaneio? Do que a culpa e o remorso são capazes? É possível extrair questões existenciais de algumas passagens.
Com sua literatura desajustada e trevosa, Santiago Nazarian continua provocando o leitor, ainda que sua escrita pareça menos violenta e juvenil.
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Se o foco e o lado psicologico do protagonista ,lerei.Um abraco.