
Antes de se apresentarem no último sábado (dia 15), no Breve, em São Paulo, os caras do FingerFingerrr estavam sossegados na porta da entrada, tomando uma breja assim como as poucas pessoas que chegavam por ali em pleno feriadão de Páscoa. No mês anterior, haviam tocado em um dos festivais mais legais do mundo, o SXSW (South by Southwest), em Austin, Texas (EUA). Alguns amigos (que não estavam no show, claro) falavam deste duo paulistano de punk/rock/rap como expoente da nova cena do rock nacional. Fui lá conferir e gostei!
O fato de ter não mais do que 50 espectadores à frente do palco traz uma intimidade como se a banda estivesse tocando na sua sala. Não sei se foi culpa do feriado, acho que sim. Quando perguntei para o Flavio Juliano, o frontman, baixista e guitarrista do FingerFingerrr, sobre o público reduzido, ele foi bem honesto: “Eu esperava menos! Dá pra sentir o clima de um show durante o Dia D, se a galera está mobilizando ou não… e o feriado de Páscoa estava zoando o clima geral. Fiquei feliz que foi uma galera”.

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O Flavio é uma figura! De paletó branco, calça branca e bota branca, não sabemos se estamos diante de um rapper, do terceiro elemento do White Stripes ou do Roberto Carlos. Aí vem uma paulada punk, rápida e brutal: “Eu Só Ganho”, a música que abre e fecha o show. Caralho, os caras têm pegada! Imaginar que o som barulhento do FingerFingerrr é feito por apenas duas pessoas — em muitas faixas com apenas um baixo distorcido e uma bateria — é surreal.
De repente, vem uma levada mais suave, meio psicodélica, depois outra explosão. As letras, breves como o nome do lugar onde tocaram, são cantadas ora em português, ora em inglês. O espírito é punk, o som, um rock de garagem de primeira linha. Já o batera, Ricardo Cifas, é um monstro que dá peso de metal a algumas canções. Ele mesmo admite, na entrevista a seguir, que é a sua praia.
Tudo acontece muito rápido no palco, como a duração da maioria das músicas. Flavio só largou os microfones para descer do palco, abraçar o público e servir uma estranha bebida cujo rótulo leva o nome da banda. Uísque, rum, gim? No final, a gente sai sem entender muito o que rolou, mas com a energia lá em cima. Depois de alguns dias desse show em São Paulo, conversei com a dupla sobre o primeiro álbum, MAR, o rock nacional e outras coisas.
C&E: Por que a formação com apenas duas pessoas?
Flavio: Eu e o [Ricardo] Cifas tocamos juntos desde 2008, de um outro projeto com quatro pessoas. Aí, ele evoluiu para o FingerFingerrr e, aos poucos, o Gianni (baixo) e Filipe (guitarra) tiveram que sair por motivos pessoais. Aí, de repente, percebemos que viramos um duo por necessidade, quando fizemos nossa segunda turnê nos EUA (Texas), em 2014. Desde lá, nosso som mudou muito e formatamos toda a aparelhagem. O Gianni e o Filipe continuam nossos grandes amigos e parceiros.
C&E: Cara, o tipo de som que vocês fazem é muito original, difícil de rotular: punk, indie, hardcore? Você se arriscaria a definir?
Cifas: Acho bem difícil definir o som que fazemos. Tem muitas influências que vão desde o rock mais tradicional ao rap moderno do século XXI. O que não dá para negar é que seja rock n roll na veia.
C&E: O que vocês costumam ouvir?
Flavio: Sempre penso que tudo que já fez impacto em você, no cérebro e no coração, é uma influência sobre seu som. Seja uma música qualquer que você escuta ou uma foto ou passagem de livro. Mas, no geral, gosto muito de hip hop dos anos 1990 e do mais atual (discoteco bastante o som) e rock mais rimado (minha fase indie tá praticamente deadie). O Cifas gosta bastante de Queens of the Stone Age e cresceu ouvindo e tocando metal.
C&E: Vocês esperavam mais gente no show de sábado? É difícil conquistar um espaço no cenário do rock nacional?
Flavio: Eu esperava menos! Dá pra sentir o clima de um show durante o Dia D, se a galera está mobilizando ou não… e o feriado de Páscoa estava zoando o clima geral. Fiquei feliz que foi uma galera. É bem legal ver gente nova e é tão legal quanto ver pessoas que aparecem com frequência.
Eu nem penso no cenário de rock nacional. Acho que vários estilos dividem o mesmo espaço pra tocar e o mesmo canto no palette da pessoa ouvindo. O problema não é ter espaço pra tocar, mas é como o mercado de música e entretenimento é organizado e tratado no Brasil. De cima pra baixo, ainda é oligárquico e tudo se encaixa nos moldes como sempre. De baixo pra cima, é incrível e ferve. Essas duas pontas não se entenderam ainda.
C&E: Como foi a parceria com o produtor Mario Caldato Jr. e como ele influenciou na sonoridade da banda e na gravação do primeiro álbum, MAR?
Flavio: No meio dos sete dias de gravação de MAR, no estúdio El Rocha, o Fernando Sanches, que produziu o disco com nós, comentou que ele podia apresentar o som pro Mario C. Ele sempre foi um ídolo por tudo que fez nos Beastie Boys, uma grande influência e referência para nós.
O Fernando nos conectou e mandamos e-mail com as cópias de monitor do disco, e ele respondeu que curtiu muito o “wide spectrum of sounds and styles”. Foi demais ler isso, e aí fechamos negócio. O que a gente mais queria era sua habilidade em fazer os vocais soarem claros e interessantes, sempre. Os Beastie Boys têm três vozes bem distintas, e elas são mixadas perfeitamente. O FingerFingerrr precisava alguém que pudesse fazer o mesmo. E, claro, ele é mestre em mixar do punk rock a beats de hip hop, então não tinha pessoa melhor. Ele se envolveu tanto no projeto que até mudou e acrescentou coisas em músicas que estavam teoricamente fechadas.
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O texto esta otimo,e gostei muito da fotografia ( Nandinha iniciando carreira >>>