
Difícil achar rótulos para definir o que fazem os caras do Deafheaven. Sem dúvida, o som dessa banda da Califórnia é uma das coisas mais originais que ouvi nos últimos tempos. Não falo isso pensando apenas nas fronteiras do metal, penso na música em geral. O black-metal-viajandão-indie do grupo tem provocado opiniões apaixonadas, para o bem e para o mal. Pendo mais para o lado positivo.
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Ouvi, em 2013, o álbum que os projetou, Sunbather, que ficou no topo da lista de melhores do ano de várias publicações respeitáveis, a exemplo do site Pitchfork, que, é bom ressaltar, não é especializado em heavy metal. Como tudo o que é novo, não é simples assimilar o som da banda, longe de ser um prazer fácil, mas, quando você apaga as luzes do quarto e se concentra no que ouve, a coisa toma uma forma monumental. A começar pela capa rosa de Sunbather, que engana quem espera algo ensolarado, tudo é novo.
A maneira como eles alternam momentos melancólicos, raivosos, sombrios e, às vezes, idílicos em canções com mais de oito minutos chamou a atenção de um público fora do cluster metal. Na falta de uma definição mais precisa, fala-se da sonoridade como post-metal e blackgaze, o que bandas como Isis e o duo francês Alcest já faziam. Acho, no entanto, que o Deafheaven vai além.

Queria muito saber como eles se comportavam no palco e, no último domingo (sempre domingo, porque imagino que o aluguel da casa de shows é mais barato), fui à primeira turnê do Deafheaven no Brasil, divulgando por aqui o álbum mais recente, New Bermuda, de 2015. Vi o show de São Paulo, no Clash Club, que aos domingos tem se tornado um reduto de metaleiros.
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Minha primeira surpresa foi dar de cara com um público hipster, com moços e moças descolados, camisetas claras e escuras na mesma proporção e mais barbas do que cabelos compridos. Tô num show de metal? Essa confusão na plateia, apesar de gerar discórdia nos metaleiros mais puristas, me deixou interessado. Sim, acho legal uma banda de black metal alcançar um público mais heterogêneo. Não vejo mal nenhum nisso.
A questão é que, quando o Deafheaven subiu ao palco, provavelmente algumas pessoas ali ficaram assustadas. Não esperavam, talvez, a voz possuída-demoníaca do George Clarke nem a guitarra sufocante de Kerry McCoy. Eles não parecem uma banda de black metal, estão mais para nerds, mas tocam com a intensidade de uma. Clarke, apesar do excesso de poses, se entregou de corpo e alma. Canta colado na plateia e, mais de uma vez, se jogou nos braços da galera e soltou a voz olhando para o teto. O show tem energia e causa estranheza ao mesmo tempo. Gostei do que vi.
Na sequência exata do álbum, eles tocaram o New Bermuda na íntegra. Depois, emendaram no bis duas pauladas do Sunbather, Dreamhouse e a faixa-título. O fim da apresentação separou os homens dos meninos, com uma imensa roda formada no centro da pista. Até o tímido Shiv Mehra se jogou com guitarra e tudo sobre a plateia. Ainda que Clarke assuma o posto de líder da banda e cuide da interação com os fãs, falta ao resto da banda um pouco mais de carisma, envolvimento. Tirando isso, foi uma noite foda.
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[…] 2016, o Deafheaven esteve pela primeira vez no Brasil e incendiou o público que compareceu ao Clash Club, em São Paulo. Na época, tinham na bagagem […]
Deafheaven vai muito além do que os caras do Alcest fazem. Conseguem flertar com todo tipo elementos possíveis e é mó gostoso vc sentir isso nas musicas. É musica pesada sem barreiras de gênero e sem vergonha nenhuma de mesclar.
Concordo, Gabriel, é uma das bandas que mais me impressionaram nos últimos anos. Obrigado pela visita por aqui. Um abraço
[…] sons. É um dos protagonistas de uma nova onda de metal formada após os anos 2000, ao lado de Deafheaven, […]
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Texto excelente.Qto ao nome da banda,desde sempre o ceu e totalmente surdo,principalmente em relacao as preces doos seres humanos.Um grande abraco e bom fds.