O retorno do Deafheaven a São Paulo. Saiba como foi o show

Deafheaven retorna ao Brasil para show no Fabrique Club, em São Paulo (Foto: Fernando Masini)

Não sei bem o que virou o Deafheaven. Fui ao show em São Paulo no domingo e não sei se gostei. Estou confuso. Mas espero ter uma opinião mais clara até o fim deste artigo.

Sou fã dos primeiros álbuns da banda de São Francisco, que faz um metal introspectivo, agressivo, idílico e inovador. Lá atrás, fiquei bem impressionado com as músicas do Sunbather, um divisor de águas do metal mais alternativo (post-metal), e New Bermuda.

Nesses dois discos, há um frescor que segue o caminho aberto por grupos como Melvins e Neurosis nos anos 1980. É um metal complexo, às vezes lento, arrastado, melancólico, com estruturas musicais quebradas. E tudo tocado e cantado com emoção. Você sente o que ouve.

Os hipters também gosta de black metal

Em 2016, fui ao primeiro show do Deafheaven no Brasil e escrevi sobre a apresentação aqui no CE. Foi bom pra caralho! Na época, descrevi a sensação de surpresa ao “dar de cara com um público hipster, com moços e moças descolados, camisetas claras e escuras na mesma proporção e mais barbas do que cabelos compridos”.

Assim como há 7 anos, a banda continua chamando a atenção de um público heterogêneo, fora do cluster metal. E isso é muito bom, a meu ver. Podemos dizer que é um black metal-indie-viajandão.

Na apresentação de domingo (10 de março), no Fabrique Club, em São Paulo, o Deafheaven encheu a casa, com uma plateia bem maior (e tão diversa quanto) do que vi na primeira passagem dos caras pela capital paulista. Começaram a noite com uma paulada: o single Black Brick, que vai na contramão das canções mais suaves do álbum mais recente, Infinite Granite, seguido do clássico Sunbather, dez minutos de uma melodia que combina à perfeição momentos do mais puro black metal com trechos melódicos e de quase silêncio. Um vai-e-vem sonoro de enlouquecer, com a voz gutural do vocal intenso de George Clarke.

No meio do show, um Deafheaven mais dançante

Clarke gosta de cantar perto do público. Ele ajoelha, se joga e arregala os olhos para quem está colado no palco. Rasga a voz aguda como se estivesse em transe, demonstrando verdade no que canta. Diferente dos outros integrantes do Deafheaven — Kerry McCoy (guitarra), Shiv Mehra (guitarra e teclado), Chris Johnson (baixo) e Daniel Tracy (bateria) — Clarke fica grandão no palco, lidera as ações e conduz a plateia com maestria.

Meu estranhamento veio mais no meio do show, com a execução das faixas de Infinite Granite: Shellstar, In Blur e Great Mass of Color. O próprio lançamento do álbum em 2021 foi controverso, alguns fãs se decepcionarem, outros curtiram a mudança de rota. Ouvimos um Deafheaven com voz limpa, sem guitarras sujas e bem distante do black metal. É como se quisessem deixar o trabalho mais acessível aos menos versados em metal.

Acontece que no palco rolou uma coisa esquizofrênica. Quando canta músicas do Infinite Granite, Clarke desfaz da expressão demoníaca e incorpora um lado mais pop, emotivo e até dançante. Sim, diversas vezes ele chegou a mexer as cadeiras num rebolado desajeitado, como se fosse o Mick Jagger. E, em alguns momentos, parecia que ele não sabia como se mexer no palco: se vestia a máscara de malvado ou de bonzinho.

Fiquei com impressão de senti-lo desconfortável, mesmo quando tentou colocar mais peso nas músicas do último álbum. Ainda bem que no fim o peso voltou com duas pauladas que fecharam a noite — aí sim as rodinhas se abriram de novo no meio da plateia e todo mundo liberou o resto de energia restante. Brought to the Water e Dream House botaram fogo na galera, relembrando que o Deafheaven sabe entregar lindas melodias sem deixar de lado o lado escuro da lua.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s