
Três anos antes de o time de futebol da Islândia ficar famoso com a conquista de uma vaga inédita na Copa do Mundo de 2018 e chamar a atenção por entoar saudações viking com a torcida, tive contato com uma comitiva de cineastas do país que vieram ao Brasil apresentar seus filmes na 43ª Mostra Internacional de Cinema de SP.
Nessa época, meu trabalho na Mostra era entrevistar um monte de cineastas de todo canto do mundo e publicar no site do evento uma breve apresentação de cada filme selecionado. Era um momento fantástico do cinema islandês! Pelo menos três filmes haviam sido premiados em festivais como Cannes, Tribeca e Berlim.
Todos eles tinham em comum o jeito simples e realista de filmar a realidade peculiar do país. Um deles, Pardais, é uma pequena obra-prima. Conta a história de um garoto de 16 anos em conflito na relação com os pais.
+ O Poço: uma alegoria para ver na quarentena
Até então só sabia que na Islândia as paisagens eram lindas, que a Björk é de lá e que quase todo sobrenome termina com “son”. Inclusive do diretor de Pardais, um jovem de cabelo lambido e senso de humor estranho chamado Rúnar Rúnarsson, com quem conversei na área reservada à imprensa do hotel Maksoud Plaza, em São Paulo.
Além de falar sobre o filme, ele me apresentou a Islândia. Fiquei sabendo que o país tinha pouco mais de 300 mil habitantes, que o sol não se punha no verão e que todos se conheciam. E que todos bebiam loucamente.
O filme se passa durante o verão e, como você disse, o sol não se esconde nessa região da Islândia, em contraste com o inverno, em que o sol quase nunca aparece. No inverno, quase todo mundo bebe porque está meio deprimido. No verão, as pessoas também bebem porque querem gastar a energia. O alcoolismo é um problema no país. Acho que esse aspecto afeta mais o espectador do que os personagens. Quando há luz ininterrupta, você perde a noção de tempo.
Rúnar Rúnarsson, diretor do filme Pardais
Depois, tive a oportunidade de entrevistar seu colega de balada: outro jovem cujo sobrenome termina com “son”: Grímur Hákonarson. Que fez outro belo filme, A Ovelha Negra, premiado em Cannes. Ele se inspirou na história dos pais e avô para narrar a vida de criadores de ovelha em uma área rural do país. Disse que “a simplicidade, o realismo e, às vezes, o humor são elementos em comum nas nossas obras”.

E, de fato, eles têm um humor esquisito. Uma coisa meio deprê, autodepreciativa e inteligente ao mesmo tempo.
A cada conversa eu dava um Google para saber mais dessa ilha localizada no Mar do Norte. Descobri que:
- Fica isolada a mais de 300 km do território mais próximo.
- Ocupa um território repleto de vulcões, glaciais e gêiseres.
- Tem uma população total de 360 mil pessoas.
- A média anual de temperatura é de 4ºC e neva por 100 dias.
- A religião predominante é a luterana.
- A pesca e o mercado de peixes são a principal atividade econômica.
- Tem um dos índices de violência mais baixos do mundo.
- Não possui forças armadas nem exército.
- A expectativa de vida no país é de mais de 80 anos.
Agora, sempre quando aparece algo da Islândia eu me interesso. Meu pai, provavelmente o visitante mais assíduo (talvez o único) deste blog, me indicou a série da Netflix O Assassino de Valhalla, que se passa na capital, Reykjavík. Aproveitei um fim de semana de quarentena para matar a série em dois dias.

Além de ser um boa história de serial killer, aos moldes de True Detective e da série sueca Millennium, O Assassino de Valhalla tem o encanto de nos apresentar outra cultura, paisagens lindas, um idioma novo. Ficamos deslumbrados com a estética dark (repara que quase todos os personagens usam roupa preta) em contraste com o branco das montanhas nevadas que fazem fundo à cidade.
Acompanhamos uma investigadora durona que trabalha ao lado de um enigmático parceiro vindo da Noruega na solução de uma sequência de crimes em que o assassino marca o corpo das vítimas e rasga seus olhos. Eles tentam estabelecer uma conexão entre as mortes e um misterioso grupo de amigos que vivia em um orfanato.
Como falei, é um bom programa para quem curte histórias de investigação e serial killers, com reviravoltas que prendem a atenção até o final. Mas nada além do que já estamos acostumados a ver na Netflix. O diferencial é mesmo o que está em torno da história: a Islândia e seu visual fascinante.
PS: mesmo ouvindo quinhetas vezes a palavra Valhalla na boca dos personagens não faço a mínima ideia de como se pronuncia esse nome.
Muito interessante mesmo.Um abraco
mandou bem ,hein Nandinho!
Marcia Masini