
O novo álbum do Ghost, Prequelle, está menos litúrgico e mais pop. Isso pode ser bom ou ruim, depende da perspectiva de cada fã. Continua teatral, como os discos anteriores, embora seja mais dançante. Pode ser considerado um passo adiante na carreira da banda sueca ou um passo para trás. Uma coisa, no entanto, é certa: o Ghost deixou as trevas de lado — ou pelo menos amenizou o tom — e parece trilhar sem medo o caminho do estrelato.
Tobias Forge (agora já sabemos a identidade de quem se escondia por trás de personagens como Papa Emeritus I, II e III) e sua trupe estão rumo a se tornar uma grande banda de arena, daquelas que tocam em rádio e se apresentam em estádios. A receita foi feita sob medida. Prequelle soa mais como uma mistura de Kiss, Mercyful Fate e Marilyn Manson, e menos como bandas obscuras de black metal. É rock mascarado para ser consumido pela massa, muito bem embalado pela indústria pop.
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E não há nenhum mal nisso. Vamos lembrar do seguinte: nos anos 1970 e 80, Los Angeles virou o reduto de grupos de glam metal, como Mötley Crüe, Ratt e Twisted Sister, que se enfeitavam com maquiagens, roupas brilhantes, adereços chamativos e botas gigantes para cantar sobre farras com mulheres, drogas e palavras de ordem contra o status quo, aproveitando o lado mais selvagem e purpurinado de Hollywood.

O próprio Forge não esconde a inspiração que vem dos anos 1980. Sem dúvida, Prequelle soa como metal old school, de voz limpa, baixo marcante, elementos eletrônicos e refrões pegajosos. É para ouvir e sair cantando. Rats, por exemplo, música que fala sobre a Peste Negra ao mesmo tempo em que associa o bicho asqueroso a políticos corruptos, poderia muito bem tocar no horário nobre da MTV.
Há também baladas (See the Light e Life Eternal) e rock de pista, como Dance Macabre, uma irresistível canção que vai fazer até o headbanger mais mal-encarado dar uma requebrada na rodinha. O tom solene e mais vagaroso, que lembrava a celebração de uma missa, deu lugar a uma festa animada do demo.
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Forge é um artista inteligente. Desde jovem — influenciado por sua mãe, uma galerista que levava o filho para apreciar obras sacras nas igrejas católicas da Suécia, e por seu irmão, que lhe apresentou ao rock e ao metal –, ele demonstrou interesse por filmes de terror e bandas de doom metal, como Saint Vitus e Candlemass.
Percebeu como podia explorar esse universo dark e incorporar elementos misteriosos em torno de sua própria banda, flertando sempre com a fama. Assim, manteve sua identidade sob sigilo durante anos e incorporou personagens macabros para atrair a curiosidade de fãs que começavam a se multiplicar pelo mundo. Forge continua vestindo-se como um papa das trevas (agora apresenta-se como o Cardinal Copia) e encenando o fim dos tempos cheio de pompa.
É divertido, estranho e meio cafona ao mesmo tempo!
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