Ghost, entre o Papa e o Mr. M

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É esquisito o show dos suecos do Ghost. Não somente pela maquiagem preta e branca do vocalista ou pela máscara de Darth Vader do restante dos integrantes, mas pela atmosfera irregular do começo ao fim. A banda, que se apresentou em São Paulo na sexta (5/9) para um público devoto que não chegou a lotar o HSBC Brasil, lançou dois discos, Opus Eponymous (2010) e Infestissumam (2013), e alimentou bem o mistério ao não identificar o nome de seus membros. Até hoje ninguém sabe quem são eles.

Ok, não é uma estratégia tão nova assim. O pessoal do Brujeria, por exemplo, também cultivou esse sigilo até onde deu. O fato é que isso funciona com os fãs, que tendem a gostar do enigma, a discutir as identidades nas redes sociais. Papa Emeritus, o vocalista que se veste como um sumo pontífice das trevas, de bata preta com forro roxo, rosto pintado como se fosse uma caveira e uma mitra, é uma figuraça. Ao entrar no palco, ele assusta, como deve ser, faz gestos lentos e calculados como os de um papa, não fala nada e solta a voz. Ao contrário do que se imagina vendo apenas a figura dele, sua voz é limpa, às vezes até fina.

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O ritmo também não é pesado, mas encabula a plateia como se fosse um canto gregoriano. Todos acompanham o Papa num coral possuído. Entre uma canção e outra, a galera não se aguentava: “Olê, olê, olê, olêêê, Lucifer, Lucifê”. Con Clavi con Dio e Year Zero foram de arrepiar, dois pontos altos do show, tocadas e interpretadas como uma seita.

Por vezes temos a impressão de estar ouvindo um metal progressivo, com sintetizadores funcionando a topo vapor. A presença quase imóvel dos caras garante o tom solene, mas perde em energia. A meu ver, faz falta um movimento mais bruto, que seja um ataque epilético. Os problemas, no entanto, começam quando Papa Emeritus fala com a plateia –a voz de um garoto com sotaque texano– e quebra o encanto. Enquanto mexe o colar com a cruz invertida, manda beijos para os fãs como se fosse um candidato. Aí é como se o Jason tirasse a máscara no meio do filme. Não faz sentido.

O que era para ser uma encarnação de satanás no palco vira um Mr. M burlesco. De repente, até canções mais pop, a exemplo de Zombie Queen, fazem os fãs dançarem como se estivessem numa pista de dança. O simbolismo vai por água abaixo, e minha paciência também foi nessa hora.

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