
Nem bem estreou e Rua Cloverfield, 10, suspense produzido por J.J. Abrams, uma das mentes mais criativas e espertas de Hollywood, responsável pelo sucesso da série Lost e diretor de Star Wars – O Despertar da Força, já está dando o que falar em discussões na internet, sobretudo entre os fãs da ficção científica Cloverfield, o filme de 2008, também produzido por Abrams, que mostrava Nova York sob o ataque de monstros, como se estivéssemos vendo um vídeo caseiro registrado por uma das vítimas.
Trata-se de uma sequência do original de 2008? Como ligar os dois filmes?
Aí o mistério ganha corpo graças, principalmente, à habilidade de Abrams em promover seus projetos, através de campanhas de marketing sorrateiras que, aos poucos, vão se agigantando pelo boca-a-boca virtual. Você já ouviu falar de ARG (Alternate Reality Game)? No final do post conto como ele é eficaz quando o objetivo é viralizar um conteúdo.
Vamos começar com a seguinte explicação: Rua Cloverfield, 10 não nasceu com esse nome (e isso é primordial para entender o que vem a seguir). A produtora de Abrams, a Bad Robot, comprou em 2012 o primeiro esboço de um roteiro chamado The Cellar, escrito por Josh Campbell e Matt Stuecken. O jovem Damien Chazelle, diretor e roteirista de Whiplash (2014), foi então convocado para elaborar a versão final do roteiro e reestruturar algumas passagens. A direção ficou a cargo do estreante Dan Trachtenberg.

Aos poucos, os produtores perceberam que o projeto, cuja história era a de uma mulher que acorda em um bunker sob a proteção de um militar diante de um suposto ataque apocalíptico, tinha alguma familiaridade com Cloverfield. Pronto, deram um jeito de entortar o enredo, inserir um novo final e batizar o filme de Rua Cloverfield, 10, numa referência direta ao longa de 2008. Semanas antes do lançamento, Abrams falou com a imprensa explicando que existe, sim, uma “ligação espiritual” entre os dois filmes. E mais: que há planos de um terceiro episódio que seria o desenlace da franquia.
Com isso, inevitavelmente, todo mundo se lançou no desafio de tentar entender onde estão as conexões entre uma história e outra (se é que elas, de fato, existem). Aviso: a partir daqui, o texto contém alguns spoilers.
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Dá para dizer que não é uma sequência. Os atores e personagens não são os mesmos, o local é diferente, mas o clima de tensão e apreensão coincide. São pessoas acuadas pelo medo, desesperadas, num estado que beira a paranoia.
Em Rua Cloverfield, 10, acompanhamos Michelle (interpretada pela boa atriz Mary Elizabeth Winstead) momentos antes de sair de casa, após uma briga com o namorado, e pegar o carro. Enquanto dirige, ela recebe a ligação dele, mas não atende. Após um acidente brutal e ruidoso (aqui, o diretor intercala de maneira magnífica os letreiros de abertura do filme, num silêncio cortado pelo barulho estridente da colisão dos carros), Michelle acorda num quarto, com a perna acorrentada à cama. Sem saber como foi parar ali, recebe a visita de Howard (o ótimo John Goodman, de O Grande Lebowski), um ex-militar que construiu um bunker sob a sua fazenda para se proteger de um suposto ataque nuclear. Não sabemos se ele fala a verdade: será mesmo generoso ao oferecer abrigo a uma sobrevivente ou um psicopata que esconde planos maquiavélicos? Além de Michelle, Emmett (John Gallagher Jr.) também está sob custódia de Howard.
Mesmo pensando fora do universo Cloverfield, o filme é um suspense de grudar os olhos na tela e até mais impactante do que o seu par anterior. Com uma trama simples, que se passa praticamente numa única locação, e um elenco reduzido a três atores, o diretor Dan Trachtenberg prende a atenção do público na base da sugestão de cada situação, sempre manipulando a expectativa de cada cena com habilidade, criando assim um jogo de sobrevivência. É claustrofóbico, tenso e com ótimas atuações que garantem a ambivalência de cada personagem. Não vou contar o final, óbvio, mas ele poderia tomar outro rumo, e parece ter sido feito à força para amarrar (ou sugerir ligações) com a história de 2008.

E onde estão as conexões, afinal? Bom, se for para mergulhar no incerto e nas confabulações, acho que o mais provável é que o ataque de monstros alienígenas que atingiu Nova York no primeiro filme, em 2008, destruindo a cabeça da Estátua da Liberdade e explodindo a Ponte do Brooklyn, pode ter acontecido ao mesmo tempo, em outro local, no segundo filme, obrigando Howard, Michelle e Emmett a ficarem confinados no bunker. Corre também a hipótese de que Howard seria um dos funcionários da Bold Futura, uma subsidiária da empresa ficcional Tagruato, que faz perfurações em alto-mar e teria causado a aparição do monstro em Cloverfield, de 2008.
Parece tudo meio maluco, certo? A coisa não para por aí. Abrams, e sua produtora Bad Robot, alimentam essa paranoia por pistas e segredos numa eficaz campanha viral de marketing que mobiliza os nerds do mundo todo como se fosse um jogo de caça ao tesouro. O nome disso é ARG (Alternate Reality Game), uma disputa eletrônica na qual os participantes podem mudar o rumo da história. A própria produtora incentiva os fãs do filme a descobrirem mais pistas e desvendarem um universo paralelo, criando sites falsos e personagens fictícios.
Cloverfield já tinha adotado essa prática em 2008 e, agora, Rua Cloverfield, 10 também segue o mesmo caminho. Por exemplo, no site falso da empresa japonesa Tagruato (clique aqui) um dos funcionários do mês que aparecem na lista é o personagem Howard Stambler (veja aqui), o carrasco (ou salvador?) que deixa Michelle e Emmett confinados no bunker. Se digitarmos a inscrição que está na camisa dele (Radioman70) como uma URL seremos direcionados para um site chamado FunAndPrettyThings, onde há lembranças da filha de Megan, a filha de Howard.
Assim, Abrams consegue um engajamento interminável com seus espectadores, ora entretendo, ora ludibriando seu público.
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