
Não sei como conheci o Rarozine. Deve ter sido pulando de um lado pro outro no Instagram ou por indicação de algum amigo. O que importa é que fiquei tão animado de ver que ainda existiam fanzines sobre metal circulando por aí que resolvi comprar um exemplar: o número 9, que tem os santistas do Surra na capa.
Sim, o Rarozine é um fanzine que lembra aquelas antigas publicações dos anos 1980 (uma explicação importante aos mais jovens que leem este site) que serviam como fonte de informação bagunçada, meio tosca, mas valiosíssima para quem buscava conhecer novas bandas e respirar a cultura underground. Antes da internet, era o meio para ficar por dentro das novidades e de se conectar com a comunidade de roqueiros, metaleiros e punks da época.
O espírito DIY da música era o mesmo de quem produzia os zines. Tudo era na base do improviso, artesanal: a impressão meia-boca, muitas páginas desenhadas à mão, com rabiscos como os feitos no caderno da escola. A graça era justamente essa: ser torto, manchado, zoado, mal diagramado.
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Hoje, esses canais se transformaram em blogs, redutos digitais de uma cultura que ainda vive à margem da grande internet, lutando por espaço. Mas não, o Rarozine é impresso. Os caras, que mais tarde descobri que fazem tudo lá em Atibaia, no interior de São Paulo, escrevem, fazem o layout, mandam pra gráfica, rodam a impressão e distribuem. Num formatinho quadrado, bem zine mesmo, com destaque para a cena do metal nacional — o que é louvável!
Lembrei de quando ia até a banca para comprar a Rock Brigade, que nasceu justamente como zine no início dos anos 1980 e foi um marco da cena. Com aquela pegada de fã-clube mesmo, colocando o metal como assunto nas rodinhas. Não sei se ainda existe, mas foi (ou é) uma das publicações de música mais tradicionais do Brasil. Ajudou a formar uma fiel comunidade de headbangers por aqui.
Lá fora, nessa mesma década, zines como Metal Forces, Metal Mania e Metal Rendezvous foram responsáveis por disseminar a cultura do rock pesado para muita gente. Lars Ulrich, baterista do Metallica, era um consumidor voraz de zines e fitas-cassete. Costumava ir a Europa para trazer as novidades do NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) para os EUA. Eram eficientes canais de troca naquela época. Por aqui, o zine United Forces fez algo parecido: circulou de 1986 a 1991 e acompanhou os primeiros anos do metal nacional.
Hoje, mesmo com sites de música aos montes por aí, ainda tenho o costume de passar na banca do meu bairro para comprar a Roadie Crew, revista impressa que resiste aos tempos digitais. Nem sempre encontro. Talvez por falha de distribuição ou porque o simpático dono da banca (aqueles que acenam pro bairro todo) acha que não tem saída. O fato é que quando chego perto ele já fala: vai a Roadie Crew?
Pode ser saudosismo da minha parte, mas, além do formato, sinto falta do espírito combativo, anárquico e provocador que tinha de sobra nos zines. Nas entrevistas do Rarozine vi um pouco disso: conversas que tocam no momento atual, músicos que se posicionam politicamente e um valioso espaço de divulgação para novas bandas do metal nacional.
Eu sou admirador de publicações dessa natureza. A Roadie, como parou de chegar por aqui, acabei a assinando… e por acaso tb encontrei o seu blog e os meus parabéns por ele… muito bacana!!
Oi, Jean, obrigado pela visita e pelo comentário. Sabe que na banca aqui do lado de casa a Roadie não chega mais também. Eu comprava sempre! Como curtiu o blog, se quiser você pode seguir e receber os posts mais novos 😊
Bom dia,Masini.
Grande, Cerso, obrigado pela visita por aqui. Abraço