Velha guarda do rock ataca polícia e lança trilha para manifestações

Ouça as duas primeiras músicas dos álbuns “Século Sinistro”, do Ratos de Porão, e “Nheengatu”, dos Titãs. São dois manifestos políticos sobre a repressão policial que refletem muito bem, com peso e letras vigorosas, o momento atual do país. Desde as manifestações de junho de 2013, que começaram com a reivindicação da tarifa de ônibus e se estenderam a um cardápio bem mais amplo de insatisfação, o Brasil está pegando fogo, num momento que, no mínimo, denota incômodo social.

Os integrantes do Ratos de Porão, que lançam o álbum "Século Sinistro"
Os integrantes do Ratos de Porão, que lançam o álbum “Século Sinistro”

Diante de um cenário frouxo e alienado do rock nacional, com as novas bandas falando mais sobre paixões e desilusões amorosas, eis que surge a velha guarda do rock botando lenha na fogueira. Os Titãs não entravam em estúdio desde 2009, quando lançaram “Sacos Plásticos”. Já o Ratos de Porão lançou novo disco depois de um intervalo de oito anos. O que está rolando nas ruas deve ter tirado os caras da zona de conforto, o que é ótimo. São álbuns urgentes e politizados.

“Conflito Violento”, do RDP, inicia com gritos, disparos de bala e sirenes numa introdução quase documental de uma manifestação. Aí entra um riff matador, a bateria acelera o ritmo e João Gordo solta a voz: “Gás lacrimogêneo / Bomba de efeito moral / Bala de borracha na cara / Repressão policial / No conflito violento / Desobediência civil”. Além de ser um registro, soa também como uma incitação. Gordo continua: “Vai, cubra sua cara e sai / Linha de frente e vai”. Para não deixar dúvidas de que a canção refere-se aos mais recentes conflitos, a letra segue assim: “Borrachada para todos / Todo mundo apanha igual / Jornalista toma um pau / Com vinagre tá detido”.

Como jovens com sangue quente, gritando contra a barreira policial, “Fardado”, também a primeira música do disco novo dos Titãs, começa fazendo uso do que foi gritado nas ruas: “Você também é explorado, fardado / Você também é explorado, aqui / Por que você não abaixa essa arma?”. Questionam a truculência da polícia, assim como fizeram em 1986, quando lançaram “Polícia”, que se tornou um hino de contestação regravado pelo Sepultura. É preciso dizer que o disco não mantém o tom nas canções seguintes, com altos e baixos, mas serve de exemplo à nossa enfraquecida cena do rock nacional, cada dia mais melacueca.

 

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