
Quando era moleque, eu adorava ver o Michael Myers em ação nos filmes da franquia Halloween. O assassino impiedoso de jovens babás, que veste uma máscara branca e está sempre com uma faca nas mãos, era diferente de seus concorrentes na época, sobretudo do Jason Voorhees, de Sexta-Feira 13, e de Freddy Krueger, de A Hora do Pesadelo.
Ele não corre para capturar suas vítimas, não fala, ou seja, não precisa explicar suas ações para a plateia, e não aparece à exaustão na tela. Tudo isso contribui para o clima de suspense e para seu ar sinistro de matador incontrolável. Além de ter, como diz o psiquiatra Dr. Loomis, “os olhos do demônio”.
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Com 12 e 13 anos, eu morria de medo com a possibilidade de dar de frente com um psicopata desse tipo no meu quarto escuro, antes de ir dormir. Nutria aquela sensação gostosa de ver filmes de terror: medo e fascinação ao mesmo tempo, o desafio de enfrentar meus temores.
Hoje, tenho outro tipo de fascínio por filmes de terror, é claro. Não acordo mais à noite assustado procurando o interruptor. Mas continuo me divertindo — e estudando o gênero — graças a personagens como o Michael Myers.
Resolvi, então, ir ao cinema com minha esposa (que foi praticamente obrigada a gostar de filmes de terror) para assistir ao novo Halloween, lançado 40 anos depois do primeiro. Fui animado com o que estava ouvindo sobre essa sequência e desconfiado por ter visto um monte de bobagem, depois de 1978, que usou e maculou a reputação da franquia.
Gostei do que vi! Saí animado ao desenterrar um pedaço dos meus tempos de adolescência, aquele gosto nostálgico em cada cena. Lembrei da época em que circulava pelas videolocadoras, no interior de São Paulo, à procura das capinhas mais assustadoras em fitas VHS.
É incrível como o novo Halloween, ao se propor a ser uma sequência direta do clássico de 1978, dirigido por John Carpenter, consegue trazer de voltar o mesmo clima de ameaça a uma cidadezinha imaginária de Illinois, nos EUA, enquanto jovens se preparam para comemorar a data. E reviver o lendário embate entre Michael Myers e Laurie Strode (Jamie Lee Curtis).
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Laurie Strode, a jovem babá que conseguiu escapar das perseguições do assassino mascarado no primeiro filme, é agora uma brava avó de cabelos brancos atormentada pelo passado, em pé de guerra com a filha, e cuja missão é proteger a neta e toda a família do perigo que ronda Haddonfield, a mesma cidade onde se passa o primeiro episódio. Seu temor é que Michael Myers escape mais uma vez do manicômio.
Apesar de ser fiel na atmosfera construída por John Carpenter há 40 anos, inclusive inserindo a famosa trilha sonora de piano nas aparições do assassino, o diretor David Gordon Green inova na abordagem ao dar poder às mulheres em um gênero conhecido por subjugá-las.

Jamie Lee Curtis tem a força de um animal no papel de Laurie, assim como Michael Myers, com sua indefectível máscara branca, os cabelos desgrenhados e os “olhos do demônio”. O esperado duelo entre os dois não decepciona, mas paro por aqui para não estragar as surpresas.
Além do mérito de divertir a plateia e te colocar na beirada da poltrona com os olhos estalados, Halloween tem a importância histórica de moldar (senão definir) e fazer do slasher movie um dos gêneros mais bem-sucedidos do terror moderno. Slasher são aqueles filmes que envolvem assassinos em série — em geral eles usam máscaras — perseguindo jovens estudantes, de preferência do sexo feminino. A produção tem sempre um quê de cinema B, apelo sexual e se provou com grande potencial de bilheteria.
Para o livro Horror Films, de James Marriott, o diretor John Carpenter, que criou a franquia Halloween, disse:
“Eu odeio filmes pretensiosos. Acho que fui pela direção contrária e tentei me divertir fazendo filmes e entreter a audiência. Às vezes, funciona, outras vezes, não.”
Sem dúvida, o Halloween de 1978 foi responsável por desencadear um ciclo de filmes slasher no início dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990. Rodado em quatro semanas com um orçamento de 300 mil dólares, o filme teve uma carreira lucrativa e rendeu frutos no futuro: no total, até agora, foram dez sequências. A maioria, no entanto, dispensável. Destaco apenas os três primeiros da franquia, o H20 e este de 2018.

Mas, bem antes de 1978, produções como Psicose (1960), de Hitchcock, e Peeping Tom (1960), de Michael Powell, tiveram grande influência. Halloween também bebeu na fonte do gênero giallo italiano, em obras assinadas por Lucio Fulci e Dario Argento.
Se olharmos só para dentro dos EUA, outro grande sucesso precedeu a carreira bem-sucedida de Halloween: O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, lançado quatro anos antes. Aqui, já temos o psicopata mascarado que acossa jovens indefesas, com predileção por mulheres, com o famoso desfecho “final girl”.
Daí em diante, a fórmula foi repetida a rodo: Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Feliz Aniversário para Mim, Pânico, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado…
Entre eles muito oportunismo e pouca qualidade.
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