
Aproveitei o feriado de 7 de setembro, quando a cidade de São Paulo fica menos travada e mais habitável, para ver a exposição Alfred Hitchcock: Bastidores do Suspense no Museu da Imagem e do Som (MIS).
Por ser fã desde moleque do diretor inglês, minha expectativa era descobrir coisas novas sobre a carreira dele, assistir a trechos raros de filmes e entrevistas, ou seja, aprender algo que eu ainda não tinha conhecimento. Não foi nada disso. Fiquei entediado e decepcionado com a falta de criatividade da montagem da exposição!
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O primeiro engano foi criar um caminho cronológico, comportadinho e repetitivo. Quem entra na exposição vai seguindo por inúmeras salas idênticas com paredes de madeira, cada uma dedicada a um filme do cineasta. Antes de entrar, tem um resumo da história, fotos de bastidores, cartazes da obra em diversos idiomas e, lá dentro da sala, TVs exibindo trechos do filme. Isso se repete à exaustão.
Se a ideia foi criar um labirinto com corredores apertados, reproduzindo aquelas casas mal-assombradas em parques de diversão, o efeito não deu certo. Como as mostras do MIS recebem muita gente, estão sempre lotadas, o espaço reduzido dificultou demais a circulação.

A fase inglesa de Hitchcock, desde a década de 1920 até o fim dos anos 1930, é explorada sem criatividade. Às vezes me chamou a atenção uma folha de roteiro original do diretor ou um objeto de cena, mas a vontade mesmo era passar logo e, quem sabe, encontrar algo mais interessante no material dedicado a suas obras mais conhecidas, como Janela Indiscreta (1954), Vertigo – Um Corpo que Cai (1958), Psicose (1960) e Os Pássaros (1963).
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Estavam lá no segundo andar da mostra os filmes que fizeram de Hitchcock o mestre do suspense e do mistério. Ali havia uma preocupação maior de oferecer ao visitante uma experiência. No caso de Janela Indiscreta, entramos em uma sala, de frente para um prédio em cujas janelas estão monitores exibindo cenas da vizinhança, para ficar na posição de um voyeur, assim como James Stewart bisbilhotava as pessoas.
Por que não explorar, ao falar de Um Corpo que Cai — o filme que tem desbancado Cidadão Kane em listas de melhores de todos os tempos — a experiência de vertigem que faz John (o personagem de James Stewart) travar em algumas cenas? Mas não, mais fotos, textos e trechos do filme.

Claro que Psicose mereceu uma atenção especial, uma experiência mais imersiva. O cenário do hotel macabro onde o jovem Norman Bates nutre uma relação conturbada com sua mãe é recriado com cuidado. O visitante pode circular pela casa, subir e descer escadas que rangem, espiar pelas janelas e, claro, posar na fachada para uma selfie com os amigos, a namorada, a família, com a mãe…
Sabe o que mais faz falta? Saímos da mostra sem saber por que Hitchcock foi tão genial. Saímos sem entender que ele foi o cara que dominava a narrativa cinematográfica como ninguém, manipulava os temores e desejos da plateia com a mão de um mestre e foi responsável por redefinir a noção de suspense e mistério nos cinemas.
No fim das contas, a impressão é de que falta conteúdo (tanto análises mais interessantes quanto itens originais que pertenceram ao diretor) para contar a história de um dos maiores cineastas de todos os tempos.
[…] + Hitchcock no MIS: uma mostra sem conteúdo […]
Saudade imensa.
Valeu, Cerso, lembro de quando a gente fazia umas maratonas em Franca assistindo Hitchcock. Saudades também!