O tubarão possuído pelo demônio e o fenômeno criado por Spielberg

 

Mesmo que você pense, num dia de criatividade à flor da pele, em fazer um filme sobre um tubarão possuído pelo demônio é mais provável que essa ideia não siga adiante, certo? Não é assim que a cabeça do diretor Donald Farmer funciona. Ele acaba de finalizar um dos filmes mais bizarros do ano, Shark Exorcist, cujo lançamento em DVD está programado para ocorrer em 24 de junho. A pré-venda já está rolando aqui.

+ Mostra Carnificina reúne obras raras na USP

Farmer tem uma forte propensão ao grotesco. Dirigiu outras produções B’s com combinações duvidosas como Chainsaw Cheerleaders (2008), em que uma jovem empunha uma motosserra para lutar contra os seguidores de uma bruxa. Em Shark Exorcist, seu filme mais recente, ele conta a história de um padre que combate forças malignas numa pacata vila de pescadores. Confira o trailer.

Apesar das imagens toscas, o cartaz, que mostra um padre sendo confrontado por um tubarão que brota do mar como se fosse uma explosão, é sensacional! Obra do ilustrador Devon Whitehead, que faz uma série de ótimos trabalhos para os filmes lançados pela produtora Wild Eye Releasing e também assina capas de discos da Lunaris Records.

Sharknado (2013): sensação nas redes sociais
Sharknado (2013): sensação nas redes sociais

Isso nos faz lembrar de Spielberg, óbvio, mas também do sucesso recente e involuntário de Sharknado, o filme de baixo orçamento do diretor Anthony C. Ferrante, lançado no verão de 2013 no canal SyFy, que obteve uma estrondosa campanha nas redes sociais e alcançou um público de 2 milhões de espectadores.

+ Vinyl: um giro louco pelos anos 70 com Scorsese

Tudo isso graças à história de um tornado que leva tubarões do mar para assombrar a população na costa da Califórnia. Tara Reid (a bonitona da série American Pie) e Ian Ziering protagonizam essa trama surreal. Depois de se tornar um inesperado fenômeno foram produzidos, lógico, duas sequências que não chegaram aos pés do impacto causado pelo primeiro episódio. Diz o IMDB que uma quarta parte vem aí no meio do ano.

Tubarão (1973): o clássico de Spielberg
Tubarão (1973): o clássico de Spielberg

Tubarão-robô, tubarão-zumbi e, agora, tubarão-satã. Quem, com extrema maestria, iniciou de fato essa onda de shark movies (que se tornou quase um subgênero) foi Steven Spielberg com o hoje clássico Tubarão (Jaws no título original), de 1975, baseado no best-seller de Peter Benchley. Muitos beberam nessa fonte, mas se esqueceram das principais lições do mestre: para prender a plateia e manipular sensações como o medo é mais eficaz sugerir do que mostrar. No caso do filme de Spielberg, isso vai ao limite (quase não vemos o corpo do predador ao longo da projeção).

Na época, duas razões levaram Spielberg, aos 27 anos, a adotar essa linha de filmagem. A primeira delas tem a ver com as lições aprendidas com Hitchcock, o mais célebre e talentoso dos cineastas a controlar os temores do público. O próprio Spielberg assume esse ensinamento em uma de suas entrevistas. A segunda, mais prosaica, é que o tubarão mecânico, cujo apelido era Bruce, não ficava pronto e gerou uma baita dor de cabeça ao jovem realizador, pressionado pelos prazos da Universal. Ele queria algo realista (se recusou, por exemplo, ao máximo a rodar cenas num tanque cheio de água, o que era comum à época) e teve que se virar.

O resultado é pioneiro em vários aspectos, desde a habilidade de Spielberg de te manter na ponta da poltrona o tempo todo até o marketing que envolveu o lançamento do filme no verão daquele ano.

Um comentário

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s