
Veio em bom momento a exposição do MIS, em São Paulo, dedicada ao mestre do horror nacional José Mojica Marins. O cineasta de 79 anos passa por maus bocados: sofreu duas paradas cardíacas, ficou internado no hospital por seis meses e, agora, em casa sob os cuidados da filha, Liz Vamp, luta contra um enfisema pulmonar. Vai e volta do hospital para fazer diálises num roteiro desgastante. Conversei com a sua filha por telefone e, muito paciente e atenciosa, ela explicou que a voz do Zé do Caixão, normalmente potente e empostada, está fraquinha, quase não sai de sua boca.
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Ou seja, a mostra À Meia-Noite Levarei Sua Alma é uma homenagem justa e oportuna. Antes dela, a 39ª Mostra de Cinema de São Paulo também fez a sua parte: concedeu a Mojica o prêmio Leon Cakoff e exibiu sua famosa trilogia: À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967) e Encarnação do Demônio (2008).

Quase todo o material exposto integra a coleção preservada por Marcelo Colaiacovo, curador do acervo do cineasta e um de seus assistentes de direção. Não é uma seleção extensa, ocupa apenas o primeiro andar do museu, mas os fãs vão se divertir. É tudo meio tosco, como, nesse caso, tem que ser. Cada vitrine, com cartazes, escritos originais, fotos de cenas, VHSs, recortes de revistas e objetos cênicos, representa um filme, entre eles Delírios de um Anormal (1978) e Ritual dos Sádicos (1970), este último censurado pelo regime militar.
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Um caixão disponibilizado pelo Cemitério da Consolação para o filme Encarnação do Demônio é exibido ao lado do famoso traje preto de Zé do Caixão criado pelo estilista Alexandre Herchcovitch. O visitante encontrará também um filme em película 16 milímetros de À Meia Noite Levarei sua Alma e um troféu de 1973, recebido por Mojica no Festival Internacional de Cine Fantástico y de Terror Sitges, na Espanha.

A sala mais ousada da exposição, que foge das soluções óbvias de curadoria compostas de texto e foto, reproduz o inferno. Ou como seriam as trevas na visão do Zé do Caixão. Paredes e azulejos se misturam a tripas como se fosse uma obra de Adriana Varejão. No ambiente de luz avermelhada, uma caveira repousa numa banheira e bonecos decepados pendem do teto de uma sala de cirurgia. O ambiente é ideal para fazer sua selfie macabra!
O circuito é pequeno e deixa o visitante com vontade de saber mais sobre a vida de Mojica. E por que não há trechos de seus filmes? Os vídeos curtos cumprem somente função decorativa.
Para saber mais sobre Zé do Caixão recomendo o livro Maldito, dos jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti. Está esgotado, mas dá para achar em sebos. Força, Mojica!