Alien: Romulus e a franquia quarentona que ainda assusta e faz pensar

Cena do filme Alien: Romulus
Cena de Alien: Romulus, novo capítulo da franquia iniciada em 1979

Por Roberto Ângelo

Abro espaço aqui no blog para um grande amigo, Roberto Ângelo, cinéfilo, estudioso e também apaixonado por filmes de horror. Ele comenta a seguir sobre o novo capítulo da franquia Alien. No Instagram do Roberto, tem sempre dicas boas de livro, filme, série. Recomendo 🙂

Saindo da sessão de Alien: Romulus, o mais recente capítulo da série iniciada por Ridley Scott em 1979, um rapaz passou correndo por mim, apavorado e lamentando ter encarado o filme sozinho. Por mais perverso que pareça, essa reação me deixou extremamente contente. Explico: primeiro, é uma prova de que a franquia, com mais de quarenta anos, ainda consegue perturbar a mente do público. Em segundo lugar, a experiência coletiva do suspense e do terror em uma sala de cinema permanece insuperável e, por isso, precisa continuar existindo.

Sempre amei a série Alien. Mesmo os filmes mais fracos são, na minha opinião, interessantes. Depois que Scott estabeleceu as bases, grandes diretores trouxeram novos elementos e conseguiram imprimir uma marca pessoal a cada novo filme, algo extremamente raro em uma franquia hollywoodiana.

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Após o terror gótico de Scott, James Cameron trouxe uma dose cavalar de ação à série com Aliens (1986) – outra obra-prima. Em 1992, apesar das dificuldades impostas pelo estúdio, David Fincher criou o barroco Alien³, que, de alguma forma, tentou recuperar a escala menor e mais claustrofóbica do filme original. Por fim, em 1997, o francês Jean-Pierre Jeunet lançou Alien: A Ressurreição, filme que abraçou a autoparódia e o surrealismo bizarro sem qualquer pudor.

Depois de um longo período em hibernação (me recuso a considerar os filmes Alien vs. Predador como parte dessa franquia), Scott retornou ao universo de Alien com Prometheus (2012). Avesso a sequências, Scott tentou criar uma espécie de prequela/reboot que abordava a criatura de forma inusitada, focando mais em questões existenciais ligadas à origem da humanidade. Muitos torceram o nariz, mas eu achei, no mínimo, ousado. Ele continuou nessa linha com Alien: Covenant (2017).

Contudo, como bem definiu Eliane Brum naquela que considero a melhor crítica cinematográfica já feita, a série Alien é, sobretudo, uma grande alegoria sobre a agressão masculina. Esse masculino degenerado é encarnado pela criatura fálica e pavorosa criada pelo artista suíço H.R. Giger. Para enfrentá-lo, um feminino feroz emerge na figura da tenente Ellen Ripley, brilhantemente interpretada por Sigourney Weaver. No primeiro filme, esse embate sangrento, repleto de alusões ao sexo e à maternidade, ocorre nos corredores de uma nave cujo desenho lembra, não por acaso, uma grande e sombria catedral. É brilhante.

Fede Alvarez, o diretor que assume a batuta sob o olhar atento de Ridley Scott, agora na cadeira de produtor, resgata esse espírito mais primal da série em Alien: Romulus. Com uma história situada entre os dois primeiros filmes, o roteiro, enxuto e eficiente, apresenta um grupo de jovens colonizadores espaciais que, enquanto exploram as profundezas de uma estação espacial abandonada, se deparam com o terrível Xenomorfo. O que começa como uma missão de exploração rapidamente se transforma em uma luta desesperada pela sobrevivência.

Navegando com habilidade entre homenagear os filmes anteriores e indicar novos rumos para a franquia, Alvarez cria uma obra excepcional, repleta de tensão, suspense e imagens dignas de despertarem os piores pesadelos. Assistam na maior tela possível!

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