M3GAN ou como a IA pode te matar – literalmente

Filme M3GAN
A boneca M3GAN, que dá nome ao filme

Em um ano, o termo inteligência artificial alcançou o pico de intenção de buscas no Google. É uma das palavras mais ouvidas e discutidas nos últimos meses.

Até onde a IA vai? O que ela é capaz de fazer? Quais são as ameaças em torno dessa tecnologia? E, aos mais apocalípticos, será que a IA vai extinguir a humanidade?

Claro que não tenho as respostas para as perguntas acima, mas esse interesse crescente pelo termo tem mexido com a cabeça de artistas, fotógrafos, desenvolvedores, especialistas em marketing e até produtores de cinema devido a seu poder de gerar pensamento e opinião própria, estabelecer sinapses parecidas com as de um ser humano e fazer o que fazemos com uma velocidade incrível.

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O filme M3GAN, sensação nos cinemas que custou R$ 12 milhões para ser feito e já alcançou uma bilheteria de R$ 179 milhões pelo mundo, olha para a inteligência artificial com terror. A história de uma boneca fabricada por uma empresa de tecnologia que ganha vida própria e sai do controle de seu criador (clara referência ao clássico Frankenstein, de Mary Shelley) toca fundo nos temores de quem vê o avanço tecnológico como uma ameaça à humanidade.

Por trás de M3GAN há a mão do diretor e produtor James Wan, um dos expoentes da nova geração do cinema de terror, diretor de filmes como Jogos Mortais, Invocação do Mal e Sobrenatural. Apesar de Wan levantar um assunto importante no timing certo — e portanto despertar tanto interesse por M3GAN — não achei lá essas coisas o filme. Considero superestimado pela crítica, que deu 93% de aprovação para a obra.

Para mim, vale mais como diversão do que como reflexão, daqueles filmes que assustam e rendem algumas risadas, sejam elas propositais ou não.

M3GAN e nossa ganância sem limites

M3GAN conta a história da desenvolvedora de softwares Gemma (Allison Williams, que tem acumulado ótimas performances em filmes de terror, depois de aparecer ao mundo com a série Girls), que trabalha em uma empresa de tecnologia, games e brinquedos. Em sua rotina, ela tenta equilibrar a obsessão pelo novo projeto, o desenvolvimento da boneca M3GAN, com os cuidados com a sobrinha Cady (Violet McGraw).

Movida pela pressão dos executivos da empresa, ávidos por um produto que encha seus bolsos, ela cria o protótipo de uma boneca à la Chucky que se transforma em um monstro. Mas diferentemente de Chucky, M3GAN é programada por meio de IA para aprender com os humanos, coletar dados e informações numa agilidade absurda e, por ser uma tecnologia generativa, a exemplo do ChatGPT, estabelecer por conta própria novos padrões e comportamentos.

Fiquei pensando em como, ao longo da história, o surgimento de uma nova tecnologia, normalmente jogada às pressas no mercado sem pesar as consequências que pode causar, nos impacta e desenterra nossa admiração e os mais profundos temores.

Rádio, TV, internet e agora IA: medo e fascínio pela tecnologia

Temos vários exemplos de filmes e outras produções de terror que encaram a tecnologia como uma ameaça à nossa existência, desde o pânico transmitido por rádio pelo cineasta Orson Welles em Guerra dos Mundos, até os espíritos que usam a TV para se comunicar em Poltergeist, escrito por Spielberg, passando por obras menos comerciais, como o ótimo Videodrome, de David Cronenberg.

Tudo isso está em nossa rotina, aceitamos a presença de uma estranha tecnologia no meio da nossa sala ou no escritório do trabalho sem ter exato controle sobre ela. É um fascínio quase mórbido. Quem já não se assustou e se surpreendeu com a intromissão da Alexa, Siri e outras assistentes virtuais com nomes fofinhos em nossas conversas.

E quanto mais sofisticada a tecnologia, como a boneca M3GAN, maior o nosso medo de um dia sermos totalmente controlados pelas máquinas.

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