Klaus Renft Combo: o rock da RDA sob o regime vermelho

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A primeira vez que ouvi falar da banda alemã Renft foi no livro da australiana Anna Funder, Stasilândia, no qual a autora disseca o regime de controle e espionagem da Stasi durante o período em que existiu a RDA (República Democrática Alemã) e o muro permaneceu de pé. Anna passeia por cidades como Leipzig e Potsdam atrás de informações de vítimas da agência e faz entrevistas com ex-funcionários da corporação. Nessas idas e vindas, ela torna-se amiga de Klaus Renft, “o cara mais rebelde e rock and roll da Alemanha Oriental”, nas palavras dela.

Anna desafoga a tensão do livro em conversas bem informais com Klaus, entre uma cerveja e outra, contando como o músico virava as costas para a opressão e cutucava o status quo. Foi ele que fundou, em 1958, três anos antes da construção do muro que separou o país europeu, a banda mais explosiva da RDA: o Klaus Renft Combo. Como Anna nos ensina, não se tratava de um grupo ultrapolitizado, que usava o palco como púlpito de campanha. Mas, a atitude roqueira, por si só, já colocava várias pulgas atrás da orelha dos agentes da Stasi.

O fundador da banda, Klaus Renft
O fundador da banda, Klaus Renft

Os anos 1960 foram marcados por covers de bandas que eles só conseguiam ouvir em rádios clandestinas, como Led Zeppelin, Pink Floyd e Rolling Stones. Com a entrada de Gerulf Pannach, em 1969, o conjunto compôs letras mais ferozes contra o sistema, chamando a atenção para seu poder de fogo. Lançaram o álbum de estreia (homônimo), com canções próprias, em 1973. Músicas como Autostop e Der Apfeltraum tornaram-se hinos para uma geração encaladrada.

Dois anos depois, o Renft Combo foi convidado a se apresentar para o departamento cultural da Stasi, em troca de uma necessária licença a fim de seguir nos palcos. Essa apresentação nunca ocorreu. Uma das diretoras teve contato com uma fita contendo algumas canções do grupo e considerou-as ofensivas demais. Resolveu riscá-los do mapa para evitar transtornos maiores. Já velhotes, os caras só voltaram a se reunir um ano após a queda do Muro de Berlim, em 1990. E continuam na ativa, sob o status de banda cult da RDA, desenterrando aos fãs uma ostalgie (termo alemão que designa nostalgia da Alemanha Oriental). No vídeo abaixo, eles tocam num festival em Leipzig, em 1972.

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